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O agro e as abelhas

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(Xico Graziano, publicado no portal Poder360 em 06 de maio de 2025)

 

É possível haver convivência entre abelhas e agricultura? A ciência e a prática agronômica garantem que sim. Inclusive nas grandes lavouras de soja.

A integração da agricultura com a apicultura é o tema central de workshop a ser realizado na próxima quinta-feira (8), organizado pelo CAT (Clube Amigos da Terra), em Sorriso, Mato Grosso. Mais que proteger as abelhas, trata-se de considerá-las parceiras da produção agrícola.

Décio Gazzoni, agrônomo e pesquisador da Embrapa, o maior cientista do assunto, estará presente no evento. Seus trabalhos, reunidos no livro “Soja e abelhas” tem provocado a inteligência dos agricultores, instigando-os a instalarem colmeias ao redor de suas lavouras.

Os estudos conduzidos pelo dr. Gazzoni indicam que a produtividade nas lavouras de soja pode aumentar, em média, em 12,9%, por causa da polinização realizada por abelhas africanizadas (Apis melífera). Em certas condições, chega até a 30% o acréscimo de produtividade da soja. Como o agricultor pouco muda o seu sistema de produção (usa a mesma quantidade de insumos), ganha boa renda adicional.

A temática é inovadora pelo fato de a soja ser hermafrodita, cujas flores contêm os aparelhos reprodutores masculino (estame) e feminino (estigma). Trata-se de uma planta autógama, cleistogâmica e autopolinizada, pouco dependente de fatores externos para produzir seus grãos. Noutras espécies, como muitas frutas, ou no cacau, por exemplo, a importância da polinização por insetos é sabidamente bem maior.

Por essa razão, nunca se deu relevância às abelhas na polinização da oleaginosa. A inquietação científica levou o dr. Gazzoni a pesquisar o assunto, descobrindo que existia uma janela de oportunidades para elevar a produtividade via influência de abelhas: “A maior parcela da polinização é feita com a flor ainda fechada. Mas, por cerca de 6 horas, após a abertura da flor, é possível ocorrer polinização por meio de visitantes florais”.

Nos experimentos realizados, os apicultores instalaram suas colmeias em locais protegidos, próximos às lavouras de soja, conseguindo obter até 50 kg/colmeia/ano. Para comparação, a média nacional de produção de mel é de 19 kg/colmeia/ano.

Uma grande vantagem para a integração entre a apicultura e a sojicultura vem do fato de a floração da soja ocorrer em um período, no início do ano, em que há poucas plantas nativas floridas, assegurando oferta de alimentação (néctar) gratuita às abelhas. A flor da soja produz um mel aromático, suave e, curiosamente, não cristalizável, mesmo a baixas temperaturas. Seu potencial de mercado, portanto, é elevado.

Para conseguir esse processo de verdadeiro “ganha-ganha” entre soja e abelhas, é necessário garantir as boas práticas agrícolas na lavoura, a começar pelo manejo adequado de pragas. Pesticidas químicos podem ser fatais às abelhas.

O período de floração da soja ocorre por 15 a 20 dias, época que se deve evitar ao máximo as pulverizações contra pragas. Se necessário, a recomendação técnica é não pulverizar a lavoura pela manhã, quando as abelhas visitam as flores. Fundamental também é impedir a deriva de produtos químicos nas áreas marginais, onde ficam as capoeiras de vegetação nativa e as matas ciliares, que abrigam os polinizadores.

Nas fazendas onde ocorre a integração soja-mel funciona um sistema de comunicação entre o agricultor e o apicultor, com avisos e alertas sobre as operações agrícolas, visando a assegurar a integridade das colmeias. Em certos momentos, estas devem ser fechadas ou cobertas provisoriamente. Um respeita o outro.

Se você pensa que a agricultura tecnológica está matando as abelhas, está enganado. Existem, por certo, ameaças advindas da supressão de habitats naturais e, infelizmente, ocorrem incidentes, ocasionados pela incorreta, e às vezes criminosa, aplicação de inseticidas.

Torna-se, porém, exceção. Na agricultura sustentável que se desenvolve no país, a regra reside no avanço da integração entre apicultura e agricultura. Os resultados são fascinantes, incluindo aquelas experiências realizadas com as espécies nativas (melíponas), nossas abelhas sem ferrão.

A ciência agronômica torna o agro moderno um amigo das abelhas.

 

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