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GESTÃO PÚBLICA

Aprendi que fazer saúde é, antes de tudo, entender de gente

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Por Wisley Clemente

Quando comecei a atuar na gestão pública em 2004, meu objetivo era claro: melhorar a qualidade do serviço ofertado pelas secretarias municipais de saúde. Já havia passado por outras áreas da administração pública, como planejamento, administração e gestão hospitalar, mas foi na Secretaria de Saúde que encontrei um propósito maior.

Assumir essa função em Campo Verde me fez enxergar a saúde de forma sistêmica e, talvez o mais importante, me ensinou que não dá pra falar em serviço público sem falar de pessoas, tanto das que cuidam quanto das que são cuidadas.

Na época, a estrutura era limitada e o orçamento ainda mais, mas descobri que, mesmo sem muitos recursos, era possível fazer diferente. Trabalhei com reorganização de processos, revalorização de equipes, melhorias nos ambientes e na forma de comunicar as mudanças e o que parecia pequeno no papel, começou a dar resultados no dia a dia: mais eficiência na gestão, mais resolutividade no atendimento e, principalmente, mais dignidade no SUS. Falando em miúdos, observei que a qualidade no ambiente de trabalho reflete diretamente no atendimento à população.

Depois dessa experiência, veio a vontade de ampliar esse olhar, afinal, tinha desenvolvido ali uma metodologia que trazia melhorias sem depender de aumento orçamentário. Em meio a uma crise financeira, as estratégias precisaram ser sustentáveis, técnicas e criativas, e deram certo. A gestão foi reconhecida localmente e chamou a atenção de gestores de outras cidades.

Foi então que comecei a apoiar outros municípios, especialmente os que enfrentavam realidades semelhantes: pouco recurso, muitas demandas e profissionais sobrecarregados. Aos poucos, fui entendendo que cada território tem seu tempo, suas dores, seu jeito de funcionar, e que respeitar isso é fundamental para propor soluções viáveis e que façam sentido.

Um caso que me marcou foi o de Arenápolis. Com uma estrutura frágil e recursos escassos, tivemos que repensar o básico: organizar internamente, montar uma rede de serviços, formar gente, mostrar pra população que o serviço estava ali, e que era deles. Foi aí que percebi o quanto a informação transforma: quando a população sabe o que está sendo ofertado, ela valoriza, cobra e protege o SUS.

Com o tempo, a metodologia se aperfeiçoou e hoje a empresa que conduzo oferece uma assessoria completa, com equipe multidisciplinar que abrange desde a atenção primária até a vigilância, jurídico, compras e sistemas de informação. Pode-se dizer que um dos grandes diferenciais é o mapeamento do perfil administrativo da secretaria, não apenas o epidemiológico.

Mas posso dizer uma coisa? Ao longo dos anos, entendi que saúde não se faz só com técnico, mas se faz com escuta, com criatividade, com coragem pra enfrentar estruturas antigas e, muitas vezes, com decisões que não cabem no Excel, mas cabem na vida real.

Por isso sigo com a minha missão de ajudar outros gestores a olharem para suas realidades com mais clareza e autonomia. Acredito na força de um serviço público bem-feito, transparente, sustentável e, mais do que isso, acredito que cada município, por menor que seja, tem potencial de oferecer saúde com qualidade, desde que tenha apoio, estratégia e gente comprometida.

Não há mágica, há trabalho técnico, sensibilidade com o território e responsabilidade com quem precisa do sistema. E sigo nessa caminhada com a certeza de que a gestão pública, quando feita com verdade, é capaz de transformar vidas, inclusive a de quem a executa.

Posso dizer que, com mais de uma década de atuação no fortalecimento da gestão em saúde pública, hoje protagonizo uma das experiências mais consistentes e inovadoras na área da saúde municipal brasileira. O que começou como um desafio técnico-administrativo transformou-se em uma metodologia de apoio e reestruturação para dezenas de municípios, e na criação da Facilita, empresa que atualmente é considerada uma das maiores assessorias em saúde pública do país.

O SUS é de todos, e o conhecimento estratégico é a sabedoria para torná-lo acessível, humano e eficiente, porque onde há gestão, há transformação social.

*Especialista em Orçamento e Finanças do SUS, Administrador Público, Diretor Presidente da Facilita Gestão Pública, Wisley Clemente 

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