AMEAÇA À SOBERANIA
“Trump acabou com o comércio entre Brasil e Estados Unidos”, diz ministro Carlos Fávaro
Patrícia Neves

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, criticou duramente a proposta do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre qualquer produto brasileiro a partir de 1º de agosto. Em entrevista à Rádio Jovem Pan, na manhã desta quinta-feira (10), Fávaro classificou a medida como uma ameaça direta à soberania nacional e pediu bom senso à diplomacia dos dois países.
“No comércio internacional, não existe margem de 50%. Ao tomar essa atitude, o presidente norte-americano acabou com o comércio entre Brasil e Estados Unidos. Não há quem consiga vender algo para lá – ou de lá para cá – com uma margem dessas”, afirmou o ministro.
Fávaro destacou que o comércio internacional opera com margens estreitas, e aumentos tarifários dessa magnitude tornam qualquer operação inviável. “Um quilo de carne com 50% de aumento de um dia para o outro, um voo da Iberia 50% mais caro do que já é… no fim, ninguém sai ganhando”, exemplificou.
Segundo ele, diante de medidas unilaterais como essa, a única resposta possível seria a reciprocidade, embora o ideal seja o restabelecimento do diálogo. “Foi o que aconteceu com a China: Trump impôs 50%, a China respondeu com 50%. Depois, ele subiu para 100%, a China também. Quando chegou a 125%, o comércio entre os dois praticamente cessou. Ninguém ganha com isso”, disse Fávaro.
O ministro ressaltou que o agronegócio brasileiro, altamente competitivo e com sucessivos recordes de produção, não pode ser penalizado por decisões políticas protecionistas. “Essa medida não prejudica apenas o Brasil, mas também os consumidores e empresas americanas. O comércio internacional precisa ser baseado na cooperação, não na hostilidade”, acrescentou.
Fávaro também fez duras críticas à tentativa de interferência estrangeira em assuntos internos do Brasil. “É inadmissível que um chefe de Estado tenha a capacidade de interferir na soberania de qualquer outro país. Veja que isso prejudica até os estados do Norte. Espero que, nas próximas horas, a diplomacia brasileira e a norte-americana tenham o bom senso de respeitar o Brasil e todos os brasileiros”, declarou.
Para o ministro, os efeitos da proposta de Trump vão além da economia. “Temos dois componentes muito importantes em jogo: o econômico e o político. E isso ficou claro na carta do presidente Trump. Já houve manifestações de ministros, porque ele também faz referência ao Supremo Tribunal Federal”, observou.
Apesar das tensões, Fávaro defendeu a relação histórica de equilíbrio entre Brasil e Estados Unidos. “Estamos diante de uma situação delicada, mas o Brasil sempre manteve uma relação econômica equilibrada com os EUA. As alegações de desequilíbrio comercial não se sustentam”, afirmou.
O ministro também citou os avanços econômicos recentes do governo Lula: “O retorno do presidente Lula vem acompanhado de resultados: crescimento de 3% pelo terceiro ano consecutivo, aumento da renda, queda do desemprego e a menor taxa dos últimos dez anos”.
Sobre as barreiras comerciais, Fávaro reiterou que o governo brasileiro aposta no multilateralismo. “O presidente dos Estados Unidos impõe barreiras comerciais, enquanto o presidente Lula, com viés progressista e foco social, defende o comércio internacional justo, com amplitude de tarifas e diálogo multilateral. Esse é o caminho que faz sentido para o Brasil e para o mundo”, completou.
Ao final, Fávaro reforçou a confiança na via diplomática. “Acreditamos na maturidade das relações entre Brasil e Estados Unidos. São mais de dois séculos de amizade entre os países. Cabe agora à diplomacia encontrar uma saída responsável e equilibrada para esse impasse”, concluiu.
A carta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e divulgada na tarde de quarta-feira (9), se diferencia de outras dezenas enviadas a líderes mundiais nos últimos dias. Além de anunciar tarifas adicionais de 50% sobre qualquer produto brasileiro exportado aos Estados Unidos, Trump justificou a medida com argumentos políticos, entre eles, críticas ao tratamento dado pelo Judiciário brasileiro ao ex-presidente Jair Bolsonaro e a empresas de tecnologia norte-americanas.