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MEIO AMBIENTE

Estudo científico aponta que sementes ingeridas por antas aceleram regeneração florestal

Da Redação

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Pesquisa mostra que sementes ingeridas por antas germinam até duas vezes mais rápido e com maior taxa de sucesso. Resultado reforça o papel-chave desse mamífero na restauração de áreas degradadas

Sementes ingeridas por antas (Tapirus terrestris) podem germinar com taxas mais altas e em menos tempo do que aquelas que simplesmente caem no solo sob as árvores-mãe. A constatação é de um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade do Vale do Taquari – Univates e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, publicado na revista científica Acta Amazonica em 27 de junho de 2025. O trabalho ressalta a importância ecológica da anta — o maior mamífero terrestre da América do Sul — como agente natural de regeneração florestal, especialmente em contextos de degradação ambiental.

O estudo representa no campo da ecologia da restauração, ao quantificar de forma precisa o impacto do processo de endozoocoria, a dispersão de sementes por meio da ingestão por animais, sobre o tempo e a taxa de germinação. Além de confirmar que as sementes sobrevivem à passagem pelo intestino das antas, os pesquisadores demonstraram que esse processo natural pode aumentar a eficiência germinativa de várias espécies nativas.

Anta: a jardineira das florestas

A anta é um mamífero de hábitos solitários e noturnos, amplamente distribuído na América do Sul, mas ameaçado em diversas regiões devido à perda de habitat, caça e atropelamentos. Por se alimentar principalmente de frutos, folhas e brotos, ela é importante como frugívoro e dispersor de sementes. Cada indivíduo pode consumir centenas de frutos por dia e defecar em locais distantes das árvores de origem, o que ajuda a quebrar o padrão de agregação de plântulas e a promover a diversidade vegetal.

“A anta é o último grande frugívoro terrestre da América Latina. Seu desaparecimento representaria a perda de um elo fundamental para o ciclo de regeneração de muitos ecossistemas tropicais”, afirma o biólogo Mateus Marques Pires, um dos coautores do artigo. Pires integra o Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento da Univates e atua na interseção entre ecologia e conservação.

Embora a dispersão de sementes por antas já fosse conhecida desde os anos 1980, o novo estudo buscou aprofundar a análise da viabilidade germinativa e da velocidade de brotação das sementes submetidas à digestão.

O experimento

A coleta de dados foi realizada entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022, em uma área de preservação permanente na zona de transição entre os biomas Amazônia e Cerrado, no estado do Mato Grosso. A bióloga Lucirene Pinto, doutoranda da Univates, visitou periodicamente 140 latrinas utilizadas por antas — locais que esses animais usam repetidamente como “banheiros naturais”. Em 88% das amostras fecais coletadas havia sementes intactas.

No laboratório, foram selecionadas sementes de seis espécies nativas da região. Para cada espécie, os cientistas aplicaram três tratamentos: sementes retiradas diretamente das fezes de antas, sementes despolpadas manualmente (grupo controle) e sementes escarificadas mecanicamente — método que simula a abrasão sofrida no sistema digestivo.

O desempenho das sementes foi analisado em condições controladas, com 100 sementes por cada tipo de tratamento. Os dados foram processados estatisticamente, comparando tanto a taxa de germinação quanto o número de dias até a emergência das plântulas.

Os resultados foram contundentes:

  • A taxa média de germinação das sementes defecadas foi de cerca de 60%, alcançando até 89% em algumas espécies.

  • O tempo médio de germinação foi significativamente reduzido. No caso da Psidium sp., por exemplo, as sementes ingeridas germinaram em 15 dias, enquanto as do grupo controle levaram 38 dias. Para o jenipapo, o tempo caiu de 40 para 17 dias.

Implicações para a restauração ecológica

A pesquisa aponta que a atuação das antas pode ser incorporada em estratégias de recuperação de áreas degradadas, especialmente em regiões onde a vegetação foi comprometida por queimadas, mineração, agricultura extensiva ou construção de barragens.

A restauração florestal demanda tempo, recursos e um bom conhecimento do ecossistema. Se a fauna local puder colaborar com esse processo, tanto melhor. Nesse sentido, proteger as antas é também proteger a regeneração natural, destacam os pesquisadores. A ciência já vem mostrando que métodos passivos de recuperação, que contam com a dinâmica natural dos ecossistemas, podem ser mais sustentáveis. Incluir a anta como agente restaurador é uma inovação dentro dessa abordagem.

Desafios e próximos passos

Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores alertam que a atuação das antas como restauradoras depende da conservação de seus habitats e da conectividade das paisagens. Em muitas regiões do Brasil, a fragmentação florestal e as barreiras impostas por rodovias e monoculturas reduzem o deslocamento desses animais, limitando sua capacidade de dispersar sementes.

Outro desafio está na escassez de dados sobre o comportamento das antas em diferentes biomas e épocas do ano. A ideia é expandir o estudo para outras regiões e avaliar se o mesmo padrão se repete em escalas maiores.

Também estão previstos experimentos de campo para monitorar o estabelecimento das plântulas germinadas a partir das sementes defecadas, verificando sua sobrevivência e crescimento ao longo do tempo, uma vez que a germinação é apenas o primeiro passo do processo de crescimento da planta.

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