MEDIDAS RESTRITIVAS
Após medidas contra Bolsonaro, Júlio Campos diz que Judiciário governa o país e ser ex-presidente “virou risco”
Patrícia Neves

O deputado federal Júlio Campos (União Brasil) criticou duramente, nesta sexta-feira (18), as decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi alvo de medidas cautelares como o uso de tornozeleira eletrônica, suspensão do uso de redes sociais, além da proibição de se comunicar com embaixadores e diplomatas estrangeiros.
Para o parlamentar, as ações do Judiciário não surpreendem, mas levantam sérias preocupações sobre a atuação política do Supremo. “Diante do que vimos nos julgamentos das manifestações de 8 de janeiro, era evidente que o ex-presidente também seria preso. Está tudo articulado para que ele seja processado”.
O deputado também questionou a proporcionalidade das penas aplicadas a manifestantes condenados após os atos em Brasília. “Uma mulher foi condenada a 14 anos por pintar uma frase em um monumento. Outros, idosos e doentes, com a Bíblia debaixo do braço, pegaram 17 anos. Isso chama atenção.”
Segundo ele, o processo contra Bolsonaro foi acelerado de forma proposital. “Achei apenas que foi um pouco precipitado. Esperávamos isso para agosto ou setembro. Foi antes mesmo de terminar o julgamento.”
Campos também comentou a atuação do ministro do STF, Alexandre de Moraes, que autorizou as medidas contra o ex-presidente com base em risco de fuga. “Todos conhecem o jeito como Moraes atua. Já foi decretada a prisão domiciliar de Bolsonaro antes mesmo da conclusão do processo. Isso mostra a linha que o Supremo decidiu adotar.”
Para o deputado, o Brasil vive um momento em que o poder Judiciário se sobrepõe às demais instituições. “Hoje, no Brasil, ser presidente, governador ou prefeito é correr risco. Então aqui no Brasil, ser presidente é correr risco, ser governador é correr risco, ser prefeito é correr risco, mediante essa situação de que quem manda no país hoje é um outro poder, que é o Judiciário.”
Ao ser questionado se acredita que Bolsonaro poderá ter sua situação revertida, Campos foi cauteloso: “A decisão pode ser revogada. Quando você não concorda com uma decisão, recorre. E o plenário pode entender de forma diferente. Mas, com certeza, a partir de agora, isso reduz o poder político de Bolsonaro.”
O parlamentar também aludiu ao caso do ex-presidente Fernando Collor, que cumpre pena em Alagoas, para ilustrar o que chamou de “clima de perseguição política”. “Ser ex-presidente no Brasil virou sinônimo de risco permanente.”