JUSTIÇA TERRITORIAL
Presidente da Aprosoja ressalta diversidade de opiniões indígenas e reforça democracia no uso da terra
Patrícia Neves e Maryelle Campos
Durante seminário “Justiça Territorial – Respeito aos Direitos Civis nos Processos de Demarcação de Terras Indígenas”, realizado nesta quinta-feira (14), o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Lucas Costa Beber, defendeu o direito de os povos indígenas escolherem como usar suas terras, incluindo a prática da agricultura. Paralelamente a abertura do evento, Kayapó, Panará, Xavante e Parecis.
Ele também criticou manifestações contrárias à produção de soja em áreas indígenas, classificando a discussão como democrática, mas muitas vezes carregada de incoerências. “Vivemos num país democrático. Eles têm direito de se manifestar, se expressar. Eu vi algumas placas falando ‘chega de soja’. É o direito de cada um”, afirmou.
Beber citou o caso dos Pareci, que, segundo ele, enfrentaram sérios problemas de desnutrição e abandono nas décadas de 1980 e 1990. A situação, afirmou, mudou após a introdução da agricultura, especialmente da soja, dentro da Reserva Utiariti (Pariqui).
“Eles estavam indo embora da aldeia porque estavam morrendo por falta de alimento, de condições básicas e justas de vida. Quando veio a cultura da soja, foi o que de fato garantiu a cultura deles preservada. Muitos voltaram para a aldeia, deixaram de ser funcionários em fazendas distantes e hoje estão lá, produzindo e contribuindo com a etnia para fugir da desnutrição e ter melhor qualidade de vida”, relatou.
O presidente da Aprosoja também criticou o que considera um paradoxo na política brasileira, ao lembrar que o Brasil importa fertilizantes do Canadá produzidos em áreas indígenas, enquanto proíbe a exploração mineral em terras indígenas nacionais. “Importamos do Canadá fertilizantes extraídos de áreas indígenas e lá os povos originários se beneficiam dos royalties para melhorar suas condições de vida, manter a cultura preservada e viver como povos originários. Mas aqui não se permite isso”, apontou.
Beber ainda relacionou o tema à dependência externa do Brasil em insumos agrícolas, como fertilizantes, especialmente da Rússia, em meio à guerra comercial envolvendo os Estados Unidos e países da OTAN, e afirmou que a falta de soberania em segurança alimentar está ligada à restrição da exploração de recursos naturais no próprio território.
Apesar das críticas, o dirigente enfatizou que todo debate é válido e reforçou a importância de respeitar tanto os indígenas que se manifestam contra a produção de soja quanto os que veem na agricultura um meio de preservar sua cultura e garantir dignidade. “Temos povos originários com placas contra a soja, e temos povos originários que querem produzir soja porque isso é o que vai manter a cultura deles preservada. Isso é democracia, e é o direito de cada um lutar por aquilo que acredita”, finalizou.