SEM VOZES DIVERGENTES
Abílio vê evento do STF em Cuiabá como manobra política: “tentando limpar a barra do Supremo”
Kamila Araújo
O prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini (PL), criticou o lançamento do projeto “Diálogos com as Juventudes”, conduzido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Luís Roberto Barroso, nesta segunda-feira (18), na capital mato-grossense. Para o gestor, a iniciativa seria uma tentativa de “melhorar a imagem” do STF no país e teria viés político-ideológico.
Abílio afirmou que o evento realizado no Liceu Cuiabano Maria não promoveu um debate plural e restringiu a participação de vozes divergentes.
“Eu entendo que é mais tentando limpar a barra do Supremo Tribunal Federal diante de uma situação de imagem muito negativa que ele está tendo no país. Eles chamam influenciadores, mas só aqueles que concordam com a opinião deles. Foi um monólogo, um diálogo de um lado só”, declarou.
O prefeito também apontou que políticos e autoridades com posicionamento contrário ao do ministro não foram convidados, o que, segundo ele, contraria o discurso de respeito à diversidade de opiniões.
“Deputados federais ou estaduais que pensam diferente não foram convidados. E, se estivessem, não teriam espaço para falar. Esse discurso de respeito à divergência não se confirma na prática”, criticou.
Cuiabá como palco estratégico
Questionado sobre o fato de Cuiabá ter sido escolhida para a estreia nacional do projeto, Abílio sugeriu que a decisão pode ter sido estratégica, considerando o perfil político do estado.
“É mais fácil vir a Cuiabá do que ir para os Estados Unidos, mas também houve um cálculo. Mato Grosso é um estado mais identificado com o bolsonarismo, e isso não é coincidência. Talvez em escolas com alunos mais instruídos politicamente, a recepção não fosse tão favorável”, afirmou.
O prefeito ainda levantou dúvidas sobre a restrição ao uso de celulares durante o encontro com estudantes. Segundo ele, a medida teria sido uma forma de controle para evitar registros de manifestações contrárias.
“Parece que os adolescentes não puderam entrar com celular. Talvez se alguém tivesse filmado, houvesse registro de uma vaia ou de uma reação contrária. A imprensa fez a cobertura, mas os alunos ficaram sem esse canal de expressão”, disse.
O projeto
O “Diálogos com as Juventudes” é uma iniciativa do Programa Justiça Plural, desenvolvido pelo CNJ em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A proposta é levar informações sobre cidadania e direitos humanos a estudantes de escolas públicas em todo o país, por meio de oficinas conduzidas por magistrados.
Em Cuiabá, Barroso conversou com alunos do Liceu Cuiabano, relatou sua trajetória pessoal e profissional e abordou temas como inteligência artificial, mudanças climáticas e o papel do STF. O evento também contou com a participação de Bruno Moura, primeiro fotógrafo com síndrome de Down a atuar no Supremo, responsável pelo registro oficial do encontro.
Ao longo do dia, Barroso ainda se reuniu com magistrados no projeto “Diálogos da Magistratura”, organizado em parceria com a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), e visitou a seccional da OAB-MT, onde discutiu o papel da advocacia na vida nacional.


