Por Caiubi Kuhn
O desenvolvimento do agronegócio em Mato Grosso está diretamente relacionado à mineração de calcário agrícola, utilizado para corrigir o pH do solo ácido por meio da calagem. Porém, a mineração pode fornecer mais um outro ativo para a agricultura: os nutrientes que as plantas tanto necessitam e que hoje são importados e custam caro para os produtores.
Conforme a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (2024), o Brasil importa 96% de potássio, 74% de fósforo e quase 100% de nitrogênio. Esses importantes insumos possuem origem em diferentes países. O cloreto de potássio é importado do Canadá, Rússia, Bielorrússia e Israel, enquanto os fertilizantes de fosfato possuem origem nos Estados Unidos, Marrocos, Egito, Israel, Arábia Saudita, Rússia e China. Já os nitrogenados possuem origem na Rússia, China, Catar, Bélgica, Argélia, Nigéria e Egito.
A saída para a redução da dependência de fertilizantes pode estar nos nossos solos, em minerais que são encontrados em diferentes rochas. Alguns tipos de rochas, como basaltos, carbonatito, esteatito, fonolito, granitos, granodiorito, kamafugito, piroxenito, serpentinitos, gnaisse, xisto, filitos, evaporitos, calcários, folhelhos, verdetes e kimberlitos, podem possuir minerais ricos em fósforo e potássio, além de outros elementos como magnésio, cálcio e diversos outros micronutrientes, como Co, Se, Cr, Pb, Li, Th, Cs, Zr, Br, Ba, F, Sr, Cd, I, V, entre outros.
O uso de rocha moída na agricultura permite liberar nutrientes de forma gradual, visando melhorar a fertilidade do solo por meio da liberação de elementos químicos devido a reações químicas e à atuação de microrganismos presentes no solo. Quando as rochas moídas possuem determinadas características que asseguram a liberação de nutrientes e a produtividade do solo, elas podem ser registradas no Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) como Remineralizadores (REM) e podem ser comercializadas. Entre os desafios para o uso de remineralizadores ou outros agrominerais está a distância entre áreas produtoras e
áreas consumidoras.
Mato Grosso é o maior produtor agrícola do país, porém também é um estado com uma grande diversidade geológica. Nesse cenário, as rochas do nosso subsolo, podem ser uma importante fonte de nutrientes com capacidade e viabilidade para melhorar a produtividade e reduzir a dependência de fertilizantes importados.
Neste mês de setembro, nos dias 1, 2 e 3, ocorrerá o Workshop: Agrominerais e a política de fertilizantes do Brasil, na Associação Matogrossense de Municípios. O evento, realizado pela Federação Brasileira de Geólogos (FEBRAGEO) e pela Associação dos Profissionais Geólogos do Estado de Mato Grosso (AGEMAT), será gratuito e irá debater esse cenário de desafios e oportunidades, com a participação de especialistas de diversas instituições, como a EMBRAPA, a UFMT, o MAPA, a UNB, entre outras.
Em um panorama internacional incerto, buscar soluções locais pode ser uma alternativa importante para os produtores rurais de Mato Grosso, e eventos como esse podem ser uma oportunidade única nesse processo. Às vezes, literalmente, a solução pode estar debaixo dos nossos pés.
Caiubi Kuhn – Geólogo, Doutor cotutela em Geociência e Meio Ambiente (UNESP) e
Environmental Sciences (Universidade de Tubingen), Professor na UFMT, Presidente
da Federação Brasileira de Geólogos (FEBRAGEO)