
Por Oscar Soares Martins
A sociedade, e em especial os Pais, ainda não compreenderam a gravidade de um fenômeno que cresce de forma assustadora: os crimes digitais envolvendo adolescentes. O que antes era visto como perigo nas ruas — assaltos, más companhias, drogas — hoje está dentro de casa, disfarçado em celulares, computadores e jogos virtuais. O inimigo não arromba portas nem janelas: entra silenciosamente pelas telas, conquistando a confiança dos jovens em poucos cliques.
Se a transformação digital abriu oportunidades de acesso ao conhecimento, também criou uma janela invisível que expõe crianças e adolescentes a riscos inimagináveis. Cada família, sem perceber, permite a entrada de desconhecidos dentro de sua casa. Muitas vezes, esses desconhecidos são pedófilos, aliciadores, traficantes ou criminosos cibernéticos em busca de vítimas fáceis.
Exemplos não faltam. Nos Estados Unidos, um garoto de 15 anos criou uma cidade virtual com personagens e ambientes fictícios. Nela, desenvolveu uma namorada digital e, por dois anos, viveu isolado da família. Quando essa personagem virtual o convidou para “morar junto”, ele não suportou o choque entre fantasia e realidade e tirou a própria vida. No Brasil, o caso Felca expôs como um influenciador de João Pessoa utilizava adolescentes em conteúdos envolvendo crianças, revelando uma face cruel da exploração digital.
Jogos online são uma das principais portas de entrada. Roblox, Fortnite e Minecraft, vistos como inocentes, permitem interação com qualquer pessoa do mundo. Por trás de avatares coloridos, muitas vezes estão adultos mal-intencionados fingindo ser adolescentes. Há inúmeros relatos de crianças assediadas, manipuladas e até induzidas a encontros presenciais. Outro risco crescente são os jogos de azar e as apostas digitais, que viciam jovens, geram dívidas impagáveis e destroem famílias inteiras.
As redes sociais ampliam ainda mais os riscos. O bullying, antes restrito à escola, agora ganha repercussão mundial. Uma ofensa pode ser compartilhada milhares de vezes, arruinando a autoestima de adolescentes e levando a quadros graves de depressão. Relatórios já apontam o crescimento do suicídio juvenil ligado diretamente à pressão psicológica online. Além disso, criminosos utilizam essas plataformas para atrair adolescentes ao tráfico de drogas, exploração sexual e até tráfico humano.
O maior erro dos Pais é acreditar que, por estarem em casa, seus filhos estão protegidos. Muros altos e condomínios seguros já não significam nada se não houver vigilância digital. É preciso acompanhar de perto o que os jovens acessam, quais jogos jogam, com quem conversam. Existem softwares de controle parental, muitos gratuitos, que ajudam a limitar o tempo de uso e monitorar aplicativos. Porém, mais do que tecnologia, é necessário diálogo. Os filhos precisam confiar nos Pais para relatar situações estranhas sem medo de punição imediata.
Ignorar o problema é um risco alto demais. Muitos Pais alegam falta de tempo ou conhecimento, mas essa negligência pode custar a segurança e até a vida de seus filhos. É como deixá-los sozinhos em uma rua movimentada e esperar que nada aconteça. A responsabilidade de orientar e proteger é intransferível.
Estamos diante de uma escolha: enfrentar esse desafio com informação, prevenção e diálogo, ou perder nossos jovens para criminosos que se aproveitam da ingenuidade digital. O perigo do nosso tempo não está apenas nas ruas, mas com a vida futura de cada adolescente, e não agir é entregar nossa juventude a mãos desconhecidas.
Oscar Soares Martins é consultor e especialista em Cybersegurança e em IA.