
Por Márcia Amorim Pedr’Ângelo
Estamos diante de uma geração que acessa respostas instantâneas antes mesmo de aprender a formular perguntas profundas. A inteligência artificial entrou na rotina de adolescentes e crianças com naturalidade, oferecendo atalhos para o conhecimento. Mas, se não houver cuidado, corremos o risco de formar jovens que sabem encontrar informações, mas não sabem pensar sobre elas.
Como educadora, percebo que a IA pode ampliar o acesso ao conhecimento e despertar a curiosidade dos estudantes. É um recurso valioso, sobretudo para quem aprende em ritmos diferentes. Mas a informação sozinha não se transforma em conhecimento sólido. O desafio é ajudar nossos jovens a interpretar o que recebem e a construir um pensamento crítico.
Por isso, acredito que precisamos voltar alguns passos dentro das práticas escolares. Resgatar a importância da explanação oral, da escrita detalhada e da argumentação construída com calma. Esses processos não são perda de tempo; ao contrário, são formas de sedimentar o conhecimento e formar mentes capazes de interpretar, questionar e criar.
Ao mesmo tempo, é necessário cuidado com o uso exagerado da tecnologia. A sedução do imediato pode levar ao esvaziamento das relações humanas e da capacidade de concentração. A educação do século XXI não pode ser ingênua: não basta oferecer ferramentas, é preciso ensinar a usá-las com consciência.
No convívio com famílias e escolas, percebo uma dor comum: como controlar e administrar esse uso? A resposta não está na proibição, que gera uma falsa sensação de proteção, como se fosse possível colocar adolescentes numa bolha. A verdadeira resposta está no equilíbrio.
Equilíbrio significa presença. Significa que o adulto, seja pai, mãe ou educador, precisa acompanhar, mediar e estabelecer limites. Mais do que isso, precisa oferecer experiências que transcendam a tela: incentivar esportes, promover clubes de leitura, cultivar momentos de convívio e contato com a natureza. A gestão desse tempo deve buscar qualidade, não apenas conforto.
É essa presença ativa que prepara os jovens para a vida real. Quando o adulto orienta, mas também abre espaço para escolhas, ensina os adolescentes a organizar o tempo e a lidar com frustrações. Nosso papel é instrumentalizá-los para que aprendam a usar a inteligência artificial de forma correta, crítica e criativa.
Acredito que educar na era da IA é abrir caminhos para que cada criança e adolescente construa um percurso autoral. Não basta consumir respostas prontas: é preciso desenvolver a capacidade de formular perguntas, de sustentar argumentos, de criar soluções. Esse é o diferencial que nenhuma máquina poderá substituir.
Márcia Amorim Pedr’Ângelo é pedagoga, fundadora das escolas Toque de Mãe e Unicus, e coordenadora da Unesco para a Educação em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.