INJUSTIÇA
Após 23 anos, família de Rivelino Brunini revive dor com nova anulação do julgamento
Da Redação

A dor de uma família cuiabana volta à tona após 23 anos do assassinato do radialista Rivelino Brunini, executado com sete tiros em Cuiabá, em 2001. Naquele dia, o amigo da família, Fauze Rachid, também foi morto. O crime, que marcou uma geração, teve idas e vindas na Justiça, mas até hoje não encontrou um desfecho. A recente decisão da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), que anulou novamente o julgamento, trouxe frustração e revolta para a família.
A viúva, Ângela Brunini, relembra a tragédia como uma ferida que nunca cicatrizou. “Fiquei viúva e com dois filhos órfãos. Um tinha apenas seis anos, o outro 11. Nossa família foi dilacerada. Minha cunhada, que teve coragem de depor, precisou deixar o país e até hoje vive fora, por medo de represálias. Outros parentes mudaram de cidade, de estado, tentando recomeçar a vida longe do terror. Afinal, estávamos falando do Arcanjo. Na época, ele era considerado o homem mais temido do estado, estampado nos jornais como ‘chefão do crime em Mato Grosso’”, relembra.
O mais novo dos filhos, Mychael Brunini, hoje é casado e pai de duas meninas pequenas e explica como a dor se transformou em fé. “Sabe o que eu diria ao Arcanjo? Eu não desejo o mal dele. Eu o perdoo. Conheci o amor de Cristo e aprendi o valor do perdão. Perdoei os assassinos do meu pai. Mas confesso: dói. Hoje, como pai, entendo ainda mais o quanto fez falta a presença dele na minha vida. Só queria que essa página fosse virada de forma justa. São 23 anos vivendo esse trauma e, a cada recurso, a cada anulação, parece que estamos sendo injustiçados de novo”.
Ele fez ainda um apelo direto ao Judiciário. “Eu sei que o Brasil tem homens e mulheres de bem dentro da Justiça. A eles, eu peço: façam valer a lei, para que finalmente possamos descansar em paz”.
Condenações e anulações
O processo foi marcado por um longo caminho judicial. O julgamento só aconteceu 13 anos após o crime. Em 2015, o ex-comendador João Arcanjo Ribeiro foi condenado a 44 anos de prisão como mandante da execução de Rivelino. Antes disso, o ex-policial militar Hércules Agostinho, acusado de ser o autor dos disparos, já havia sido condenado a 45 anos de prisão em 2012.
O caso, porém, foi repleto de reviravoltas. Em 2019, o TJ chegou a anular o júri, mas a decisão foi revertida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Depois, o Supremo Tribunal Federal (STF) manteve a condenação de Arcanjo por unanimidade, com votos dos ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Nunes Marques e Edson Fachin.
No entanto, em 2024, a 2ª Câmara Criminal do TJMT voltou a anular o julgamento, determinando que um novo júri seja realizado. Para advogados próximos à família, a decisão soa como uma afronta às cortes superiores, que já haviam reconhecido a validade da condenação.