RETORNO À CÂMARA
“Fui alvo de uma armação para encobrir desvio de R$ 4 mi”, diz Sargento Joelson, que afirma já ter sido ‘condenado’
Patrícia Neves

Após quase quatro meses de afastamento, em discurso na Câmara de Cuiabá nesta quinta-feira (4), primeiro dia de retorno às atividades parlamentares, Sargento Joelson (PSB), elencou que o homem que o denunciou responde a 51 processos criminais em Mato Grosso, o que já deve colocar em dúvida qualquer informação por ele ventilada. Reafirmou que o prefeito Abilio Brunini agiu certo ao receber à denúncia e encaminhá-la para a Polícia Civil, reafirmou sua inocência e, também do vereador Chico 2000, que simplesmente atendeu a um pedido para tentar conversar com o empresário.
Disse ainda que foi crucificado e tratado como leproso considerando que “já é um condenado, mesmo sem ter sido ouvido no processo” e que ‘tentaram matá-lo politicamente’ para tentar esconder um rombo de R$4 milhões.
Joelson afirmou ter sido vítima de uma armação política ligada à empresa HB20, responsável por parte das obras do Contorno Leste em Cuiabá. Segundo ele, a denúncia que resultou em operação policial e investigação contra seu nome teria sido construída com “prints selecionados” e motivada por vingança pessoal e desvio de foco de outro inquérito que envolve o suposto desvio de R$ 4 milhões.
“Passamos por um momento único. Pregamos ética por nove anos, e nunca imaginei estar nessa situação. Mas afirmo: atendi essa empresa com o mesmo zelo com que atendi todos os cidadãos ao longo do meu mandato”, disse Joelson.
Segundo o vereador, a denúncia partiu de João Jorge, ex-funcionário da empresa HB20, com quem afirma ter trocado mais de 500 mensagens e mantido diálogo constante durante os conflitos envolvendo fornecedores que não estavam sendo pagos.
“Fui procurado por fornecedores, trabalhadores, donos de terrenos, postos de combustíveis, todos relatando que a empresa estava devendo. Conversei com João Jorge, cobrei, recebi comprovantes de pagamentos e levei as denúncias até o presidente da Câmara, Chico 2000, que, como sempre, nos atendeu com transparência.”
Joelson ainda detalha que, à época, havia um projeto de parcelamento do INSS parado na Câmara, que alguns tentavam ligar à paralisação da obra. “Mas o projeto não estava pronto. Não era culpa da Câmara. Mesmo assim, levei a comissão até o presidente Chico, que explicou tudo com clareza.”
O ponto mais grave do discurso do vereador foi a acusação direta a João Jorge, de que ele próprio é investigado por desviar R$ 4 milhões que seriam destinados ao pagamento dos fornecedores da HB20.
“Vinte dias antes de me denunciar, ele foi demitido da empresa e passou a ser investigado por desvio dos recursos que estavam na conta dele para pagar esses fornecedores. Pior: há indícios, no inquérito, de que ele usou até menores de idade para movimentar esse dinheiro. São acusações sérias, e estão no inquérito”, disse Joelson, que prometeu disponibilizar à imprensa o material que não está em segredo de justiça.
Ele também afirmou que empresas ligadas à facção criminosa Comando Vermelho teriam participado do esquema de lavagem do dinheiro desviado. “Isso está nos documentos. E o que restou foi um rombo: a prefeitura pagou, a empresa foi embora, e os fornecedores não receberam.”
Segundo Joelson, a denúncia feita à Polícia Civil foi apresentada em agosto de 2024, dias antes do período eleitoral, com o apoio do prefeito Abilio Brunini. Para ele, o prefeito foi “usado politicamente” por João Jorge.
“Quando um político recebe uma denúncia, precisa encaminhar. Abilio fez isso, como qualquer um faria. Mas acredito que foi manipulado. João Jorge queria desviar o foco do inquérito em que é investigado.”
Joelson afirma que a operação da Polícia Civil, deflagrada em abril de 2025, poderia ter tido impacto eleitoral devastador se tivesse ocorrido em plena campanha. “Queriam me matar politicamente. Mas eu digo: estou mais forte. Deus me sustentou. Essa situação me aproximou mais da fé, me fortaleceu como homem.”
O vereador ainda mencionou que seu celular está apreendido, mas espera que o do denunciante também esteja, para que todas as conversas possam ser analisadas com transparência. “Ele pegou oito prints escolhidos entre 500 conversas para criar uma narrativa contra mim. Isso é injusto.”
Joelson também saiu em defesa do presidente da Câmara, vereador Chico 2000, citado no inquérito. “Ele apenas nos atendeu, como sempre faz com todos os 27 vereadores. Não participou de nada errado. E hoje também sofre as consequências.”
Ao final do pronunciamento, o vereador relembrou sua trajetória desde a infância em Cuiabá. “Sou Joelson desde os 6 anos, quando cheguei aqui. Estudei em escola pública, fui aluno-soldado, cabo, sargento, e hoje sou vereador. Minha história não pode ser destruída por uma armação.”
E concluiu. “Já estou perdoando o João Jorge. Ele tentou destruir minha vida, mas só me fortaleceu. O tempo, senhores, é senhor de todas as coisas. E ele vai mostrar quem está falando a verdade.”