DURANTE CONGRESSO
“Mato Grosso é a Califórnia do Brasil e a Arábia Saudita dos alimentos”, diz ex-presidente do banco do BRICS
Mato Grosso foi exaltado como motor do agronegócio brasileiro e referência mundial em produção de alimentos por Marcos Troyjo, economista, escritor e ex-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como Banco do BRICS. Para ele, o Estado ocupa no Brasil posição semelhante à da Califórnia nos Estados Unidos em tecnologia, além de projetar o país ao patamar de “Arábia Saudita dos alimentos” no cenário global.
As declarações marcaram a palestra magna de abertura do VII Congresso de Reestruturação e Recuperação Empresarial de Mato Grosso, realizado nesta quarta-feira (03.09), em Cuiabá. Promovido pela OAB-MT, o evento reúne até sexta-feira (05) juristas, magistrados, advogados, empresários e ministros de todo o país para discutir soluções jurídicas e práticas voltadas à preservação de empresas, empregos e ao fortalecimento da economia.
Segundo Troyjo, o Brasil viveu, em apenas meio século, um “verdadeiro milagre econômico”, ao sair da condição de importador líquido de alimentos para se tornar o maior exportador líquido do mundo. “Esse salto só foi possível graças ao esforço, ao planejamento e à visão empreendedora de líderes, sobretudo em Mato Grosso”, afirmou.
O economista destacou que o Estado está na vanguarda da produção de soja, milho, algodão e carne bovina, além de ser referência em biocombustíveis e sustentabilidade. “Assim como a Califórnia é a grande máquina da inovação tecnológica norte-americana, Mato Grosso é a grande máquina do agro brasileiro. O que acontece aqui serve de exemplo e de farol para o país inteiro”, pontuou.
Apesar das oportunidades externas, Troyjo alertou para os obstáculos internos que afetam a competitividade das empresas brasileiras. Entre eles, desequilíbrios fiscais, aumento do custo do crédito e dificuldades de financiamento. Apontou também que esses gargalos tornam ainda mais urgente o fortalecimento dos mecanismos de reestruturação empresarial e recuperação judicial.
Ele ressaltou que o instituto da recuperação judicial precisa ser encarado não apenas como solução jurídica, mas também como instrumento de gestão econômica. No primeiro trimestre de 2025, o número de empresas em recuperação judicial no Brasil subiu 6,9%. Entre as que superaram a crise, 80% retomaram suas atividades.
Já Mato Grosso encerrou o segundo trimestre de 2025 com 213 empresas em recuperação judicial, número que representa crescimento de 2,4% em relação ao período anterior, segundo levantamento do Monitor RGF da Recuperação Judicial.
O Estado, que concentra parte significativa do agronegócio nacional, é também um dos que mais recorrem a esse instrumento jurídico no Centro-Oeste, região que mantém a liderança proporcional no país com Índice RGF de 2,75 — o maior entre todas as regiões brasileiras.
“Às vezes o remédio jurídico é o último recurso antes da falência. Mas, se bem utilizado, pode ser a luz para atravessar mares turbulentos. Num estado como Mato Grosso, recordista em recuperações judiciais no agro, as experiências daqui podem inspirar soluções para todo o país”, argumentou Marcos Troyjo.
Ao analisar o contexto internacional, ele reforçou que o Brasil ocupa um espaço cada vez mais indispensável no comércio mundial. O país está entre os quatro maiores produtores globais — China, Índia, Estados Unidos e Brasil — mas o único que alia escala de produção, vantagens comparativas e menor pressão demográfica, ampliando a capacidade exportadora.
Nesse cenário, o economista defendeu que o país utilize os superávits do agronegócio para modernizar sua economia, da mesma forma que a Arábia Saudita usou o petróleo para financiar a transformação de sua sociedade, transformando a abundância do agro em recursos para diversificação e geração de valor agregado.
Para Troyjo, o futuro do país depende menos de debates ideológicos e mais da combinação entre estratégia e instituições sólidas.
“É isso que permitirá ao Brasil aproveitar o momento histórico de protagonismo global no setor de alimentos e criar um ambiente mais propício ao desenvolvimento das empresas”, concluiu.
VII CONGRESSO
O VII Congresso de Reestruturação e Recuperação Empresarial de Mato Grosso segue até sexta-feira (5), sempre das 8h30 às 18h, com uma programação intensa de palestras, painéis e debates que prometem movimentar a cena jurídica e empresarial no Estado e no Brasil.
O evento é uma realização da CELFRE, OAB-MT, ESAMT e CAAMT, e conta com apoio de entidades nacionais e internacionais, como FONAJEM, IWIRC, IBAJUD, CMR, AASP, Comissão de Recuperação Judicial e Falência de São Paulo e Comissão de Recuperação Judicial e Falência de Ribeirão Preto.
Também participam como comissões parceiras da OAB-MT os grupos temáticos de Agronegócio, Direito Empresarial, Direito Bancário, Jovem Advogado e Estagiários, reforçando o caráter multidisciplinar do congresso.