TRANSFORMAÇÃO
Poder Judiciário promove semana dedicada à saúde mental para jovens do sistema socioeducativo
Da Redação
Uma oportunidade de transformação. Assim pode ser definida a experiência que 23 meninas e 39 meninos em cumprimento de medida socioeducativa em Cuiabá começaram a viver nesta semana, com uma programação voltada exclusivamente à saúde mental dentro do ambiente de internação. A “Semana da Saúde Mental no Socioeducativo” teve início nesta segunda-feira (15 de setembro), na Quadra Poliesportiva do Complexo Pomeri, reunindo cerca de 100 participantes, entre adolescentes, servidores, representantes de órgãos parceiros e artistas locais.
A iniciativa é coordenada pela juíza Leilamar Aparecida Rodrigues, responsável pelo eixo socioeducativo do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e Socioeducativo (GMF/TJMT), com foco na conscientização sobre saúde mental e prevenção ao suicídio, tema central do Setembro Amarelo.
Segundo a magistrada, a proposta é aproximar os jovens do sistema de garantias e, ao mesmo tempo, dar voz às suas demandas. “Nós fizemos uma programação cheia de eventos para os adolescentes e jovens em cumprimento de medida socioeducativa. Hoje (segunda-feira), iniciamos com palestras sobre a importância de cuidar da saúde mental, nossa e deles. O mês de setembro é voltado ao combate ao suicídio, e esse debate precisa acontecer dentro das unidades. Ao longo da semana teremos oficinas e encaminhamentos para que esses adolescentes conheçam os órgãos de defesa de direitos e possam levar suas demandas ao Judiciário, Ministério Público e Defensoria Pública. É uma forma de trabalhar temas complexos de forma leve, cultural e artística, preparando-os para enfrentar a vida lá fora com mais saúde mental”, destacou.
O desembargador Orlando de Almeida Perri, supervisor do GMF, ressaltou a necessidade de um olhar individualizado para cada adolescente no processo de ressocialização.
“Nós temos muitos desajustados emocionalmente dentro do sistema carcerário e, obviamente, do socioeducativo. São pessoas que cresceram sem uma estrutura emocional e que, por isso, acabam apreendidas ou presas. Não existe ressocialização sem um tratamento específico para cada pessoa, principalmente no socioeducativo. Precisamos quase dar um atendimento individualizado para que, na vida adulta, esses adolescentes não reincidam em infrações”, afirmou.
Convidada para ministrar a palestra de abertura, a médica Natasha Slhessarenko, pediatra, patologista clínica e professora da Universidade Federal de Mato Grosso, falou sobre a importância de tratar do tema com esse público específico.
“Achei fantástica essa iniciativa porque sabemos que os socioeducandos estão aqui numa tentativa de resgate da sua pessoa, da sua integridade, da sua dignidade. São adolescentes em pleno desenvolvimento, e é essencial trazer esse tema para dentro das escolas, das casas e, principalmente, para este ambiente. Aqui também é possível resgatar e fazer diferente. Trouxe música e uma palestra interativa, porque o grande desafio é prender a atenção deles e provocar reflexões sobre a vida e os sentimentos”, explicou.
Para a secretária adjunta do Sistema Socioeducativo, Lenice Silva, o evento é uma resposta concreta a um problema crescente. “Vivemos uma realidade mundial de aumento do suicídio e da automutilação entre jovens. No caso dos adolescentes do socioeducativo, esse índice é ainda maior. Se lá fora um jovem tenta suicídio a cada 20, aqui dentro a proporção é de um para cada cinco. Por isso é tão importante uma semana como esta, para tratar do tema sem tabus, já que muitos têm vergonha de falar sobre seus medos e angústias. O cárcere amplifica ainda mais esses sentimentos negativos”, alertou.
A programação segue até o fim da semana com palestras, oficinas, apresentações culturais e momentos de interação entre adolescentes e profissionais de diversas áreas, reforçando a mensagem do “Setembro Amarelo: cuidar da saúde mental salva vidas.