Casos de sarampo em mãe e filho acendem alerta de risco de superdisseminação

O Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde do Estado de Mato Grosso (CIEVS-MT) emitiu um comunicado de risco nesta semana sobre dois casos suspeitos de sarampo com possível origem da Bolívia. Os pacientes  –  uma mulher de 27 anos, gestante, e seu filho de 4 anos –  residem em Primavera do Leste  e apresentam sintomas compatíveis com a doença. A gravidade do caso é intensificada pela evolução clínica da gestante, que sofreu um aborto espontâneo no dia 22 de setembro.

As autoridades de saúde estadual notificaram o Ponto Focal Nacional do Regulamento Sanitário Internacional (RSI) sobre a situação, classificada como de alto risco para saúde pública. O comunicado destaca a combinação de três fatores críticos: a alta transmissibilidade do vírus, a baixa cobertura vacinal local e a ocorrência de múltiplos eventos com potencial de superdisseminação.

De acordo com a investigação epidemiológica, a família dos pacientes viajou recentemente para Santa Cruz de la Sierra, epicentro de um surto ativo de sarampo na Bolívia. Durante a estadia, houve contato direto com pessoas doentes, o que reforça a hipótese de importação do vírus para o território brasileiro.

No retorno ao Brasil, a família percorreu um longo trajeto de ônibus por diversas cidades, incluindo Corumbá (MS), Campo Grande (MS), Rondonópolis (MT) e Primavera do Leste (MT), ampliando significativamente o risco de transmissão. Passageiros que compartilharam o transporte coletivo estão sendo considerados contatos sob monitoramento pelas autoridades de saúde.

Além do deslocamento por regiões de diferentes estados, os pacientes têm ligação com um segundo evento de risco: um casamento realizado entre 19 e 22 de setembro em uma comunidade ortodoxa em Campos Lindos (TO), local que enfrenta um surto confirmado de sarampo. O evento pode ter funcionado como uma “ponte epidemiológica” entre diferentes focos da doença, agravando a ameaça de dispersão nacional do vírus.

Dados da Secretaria de Estado de Saúde apontam que a cobertura vacinal da segunda dose da tríplice viral em Primavera do Leste é de apenas 80,25% — bem abaixo dos 95% recomendados para garantir imunidade coletiva. Esse cenário, somado à perda do certificado de país livre do sarampo pelo Brasil em 2019, coloca o Estado em situação de alerta máximo.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) também emitiu alertas recentes sobre o aumento de casos de sarampo nas Américas em 2025, indicando um contexto regional propício para a reintrodução do vírus em países que haviam controlado a circulação.

Como medida emergencial, os pacientes foram orientados ao isolamento domiciliar, e seus contatos próximos estão sendo monitorados por 21 dias. Amostras biológicas já foram coletadas e enviadas ao Laboratório Central de Saúde Pública de Mato Grosso (LACEN-MT) para confirmação diagnóstica por meio de testes laboratoriais.

O CIEVS-MT reforça que a combinação de um caso importado com desfecho grave, eventos de superdisseminação e uma população com baixa cobertura vacinal representa uma emergência de saúde pública de importância nacional, exigindo resposta rápida e coordenada para conter a disseminação e impedir o restabelecimento do sarampo como doença endêmica no país.