“Nossa obrigação é proteger, não usar como arma política’, diz Maysa Leão ao responder pedido de cassação

Durante a sessão desta quinta-feira (2), a vereadora Maysa Leão (Republicanos) usou a tribuna para responder ao pedido de cassação apresentado contra seu mandato, em decorrência da audiência pública realizada recentemente na Câmara de Cuiabá, quando uma jovem vítima de violência sexual relatou sua história de forma espontânea.

Maysa iniciou sua fala lembrando que o caminho político é marcado por desafios e desgastes, não apenas para quem exerce o mandato, mas também para a família. “Sempre ouvi que, se um parlamentar passar pela vereança sem nenhum pedido de cassação, é porque não se destacou. Mas eu preferia passar sem nenhum. Porque mesmo quando estamos seguros e tranquilos, isso traz um desgaste enorme”, declarou.

A parlamentar relatou em detalhes o episódio da audiência pública, organizada para debater a violência sexual contra crianças e adolescentes. Segundo ela, o momento foi marcado pela surpresa de todos os presentes quando uma jovem, de 16 anos, pediu para usar a tribuna.

“Eu estava acompanhada de uma promotora de Justiça, da secretária do município e de uma delegada. Quando a jovem se apresentou, fiquei preocupada pela idade e imediatamente confirmei com quem a trouxe. Foi-me apresentado um documento de autorização da mãe e informado que ela estava acompanhada por sua psicóloga e assistente social. Diante disso, permiti sua fala, respeitando o desejo dela de se manifestar”, explicou.

Maysa contou que, após o depoimento, solicitou à equipe de comunicação da Câmara que retirasse do ar o trecho em que a jovem aparecia, justamente para preservar sua identidade. No entanto, alguns espectadores chegaram a gravar a transmissão enquanto estava no ar. “Felizmente, esse material não foi divulgado. Quem o fizesse estaria cometendo um ilícito. A identidade da jovem foi preservada”, reforçou.

A vereadora destacou ainda a gravidade da realidade enfrentada por milhares de crianças e adolescentes no Brasil. “A cada seis minutos uma menina ou um menino é estuprado, e 80% das vítimas são menores de idade. Na maioria das vezes, o agressor está dentro de casa: é o pai, o padrasto, alguém da confiança da família. E muitas vezes, por vergonha, as famílias não denunciam”, afirmou.

Emocionada, Maysa compartilhou o impacto que o depoimento causou no plenário. “A jovem contou ter sido violentada pelo padrasto e pelo pai, desde os cinco anos. Disse que hoje, nove anos depois, teve força para falar e que o fazia para proteger sua filha, para que ela não passasse pelo mesmo sofrimento. No final, me abraçou e agradeceu pela oportunidade”, relatou.

Por fim, a parlamentar fez um apelo aos colegas vereadores para que o episódio seja tratado com responsabilidade e solidariedade. “Isso poderia ter acontecido com qualquer um de nós nesta Casa. Eu apenas estive diante de uma situação dolorosa e humana. Nossa obrigação é proteger, apoiar e dar voz às vítimas, não transformar isso em arma política”, concluiu.