RASPADINHA DO CRIME
Delegado aponta ligação entre “raspadinhas” e tráfico de drogas: “Quem compra jogo ilegal não pode esperar honestidade”
Da Redação
Durante coletiva de imprensa sobre a Operação Raspadinha do Crime, na manhã desta terça-feira (14), o delegado Antenor Pimentel, responsável pelas investigações, fez duras declarações ao comentar o funcionamento da rede criminosa que usava a venda de “raspadinhas” como fachada para movimentar dinheiro oriundo de atividades ilícitas, como o tráfico de drogas. Segundo ele, a operação revelou um sistema que ia muito além de contravenção penal.
“Quem vende, quem armazena ou até quem compra esse tipo de material responde por contravenção penal. E muitos dos distribuidores de raspadinhas também estavam ligados ao tráfico – foram presos por isso.”
De acordo com o delegado, o esquema operava como uma engrenagem empresarial, com divisão de tarefas, hierarquia e até sistema de pagamento de prêmios – embora de forma totalmente irregular. “Tinha sim pagamento de prêmio, mas num valor irrisório. Fizemos batidas com ações investigativas e encontramos prêmios de, no máximo, R$ 100. Era algo amostral, pra manter a ilusão. Mas quem compra uma coisa ilegal não pode esperar que seja honesta.”
O delegado também destacou a função de alguns dos principais operadores da organização. Um dos nomes citados foi o de Anderson, conhecido como “Boneco”, que estaria ligado à movimentação financeira da rede.
“Ele era responsável por organizar o dinheiro, fazia os pagamentos. O contato dele era com o Rio de Janeiro. Os valores eram movimentados por contas laranjas, em nome falso.”
O delegado mencionou ainda o caso de Ederson Xavier de Lima, o Boré, que foi preso na praia de Niterói (RJ) e já era alvo da GCCO por ligação direta com o núcleo estratégico da organização criminosa. “Esse aí foi preso na praia, mas está vindo pra cá. Vai responder aqui pelo que fez”.
Raspadinha do Crime
A Operação Raspadinha do Crime, deflagrada nesta quarta-feira (14), cumpriu 111 ordens judiciais em mais de 30 cidades de Mato Grosso, com o objetivo de desarticular uma estrutura que usava a venda de jogos ilegais para lavar dinheiro e financiar uma facção criminosa atuante dentro e fora dos presídios.
A ação é fruto do trabalho da Polícia Civil de Mato Grosso, por meio da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) e da Draco, em parceria com a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO).
Foram expedidos 21 mandados de prisão preventiva, 54 de busca e apreensão, além de ordens de bloqueio de bens e quebra de sigilos bancários. Os valores sequestrados ultrapassam R$ 1,1 milhão.
A investigação revelou que o esquema movimentou mais de R$ 3 milhões em apenas seis meses, com estrutura que imitava a de uma empresa formal – mas com fins criminosos.