FÓRUM BRASILEIRO
Facção assume controle de garimpos e impõe regras na Terra Indígena Sararé, aponta relatório
Da Redação
A Terra Indígena Sararé – localizada no oeste do estado de Mato Grosso, na divisa com a Bolívia, abrangendo os municípios de Conquista D’Oeste, Nova Lacerda e Vila Bela da Santíssima Trindade – , tornou-se um dos pontos mais críticos da expansão do crime organizado na Amazônia, segundo a 4ª edição do Cartografias da Violência na Amazônia, divulgada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O relatório revela que o Comando Vermelho (CV) ultrapassou a atuação marginal nos garimpos e passou a exercer um domínio direto e estruturado sobre a atividade ilegal dentro do território indígena.
A publicação mostra que a facção, já em franca expansão na Amazônia — onde ampliou em 123% o número de municípios sob influência em apenas dois anos — encontrou no garimpo ilegal um ambiente ideal para consolidar poder, controlar fluxos financeiros e impor sua presença armada. Em 2024, a TI Sararé já figurava entre os territórios com maior índice de desmatamento e atividade garimpeira em Mato Grosso. Com a chegada do CV, a crise ambiental e social ganhou nova gravidade.
O relatório descreve que o Comando Vermelho assumiu o controle da cadeia de extração mineral, interferindo desde o acesso à área até a comercialização do ouro retirado ilegalmente. A facção passou a controlar entradas e saídas de pessoas e equipamentos; impor regras internas aos garimpeiros e trabalhadores; cobrar taxas e tributos sobre a produção; definir horários e rotinas dentro da região de extração; disciplinar trabalhadores, com punições e coerção armada; e organizar a logística de transporte e venda do material extraído.
Esse modelo de controle, segundo o relatório, transforma a TI Sararé em uma área sob governança paralela do crime organizado, onde a presença do Estado é praticamente inexistente, e a facção exerce influência direta sobre a economia ilegal e sobre a circulação de pessoas.
O domínio do CV em terras indígenas, como a TI Sararé, exemplifica o avanço das facções sobre áreas de alta vulnerabilidade ambiental e social. Se antes garimpeiros e grileiros atuavam de forma desorganizada, agora o garimpo ilegal passa a seguir uma lógica criminosa profissionalizada, com divisão de tarefas, cobrança sistemática de tarifas e uso de violência para manter o controle territorial.
Para especialistas citados no relatório, esse avanço representa uma mudança paradigmática: “o garimpo ilegal deixa de ser apenas um crime ambiental e passa a ser um braço econômico das facções, com capacidade de financiar redes de tráfico, adquirir armamentos e ampliar o poder político e social em áreas remotas”.



