LIBERDADE NEGADA
Justiça mantém presos quatro acusados de mandar e executar assassinato de advogado em Cuiabá
Kamila Araújo
A Justiça de Mato Grosso decidiu manter presos os quatro acusados pelo assassinato do advogado Renato Gomes Nery, morto em 5 de julho de 2024, e rejeitou todas as tentativas das defesas de anular o processo. A decisão, assinada pelo juiz João Bosco Soares da Silva, atinge Julinere Goulart Bentos, Cesar Jorge Sechi, Jackson Pereira Barbosa e Ícaro Nathan Santos Ferreira, apontados como mandantes, financiadores e executores do crime motivado por disputa fundiária.
O magistrado rejeitou as alegações de cerceamento de defesa apresentadas pelos advogados, que pediam acesso irrestrito aos “dados brutos” das investigações. Ele destacou que os autos já possuem todos os elementos necessários para esta etapa e que pedidos mais detalhados só cabem na fase de instrução. Citou ainda jurisprudência do STF que autoriza restringir acesso quando ainda há diligências em andamento.
A ré Julinere Bentos, identificada como mandante e financiadora, teve negados pedidos de absolvição sumária, trancamento da ação, revogação da prisão, substituição por medidas cautelares e prisão domiciliar. A defesa alegou que ela deveria cumprir a pena em casa por ter uma filha com TDAH e ansiedade, mas o juiz afirmou que o crime envolve extrema gravidade, organização criminosa e risco concreto de reiteração, além de ameaças anteriores feitas pela própria ré contra a vítima. Lembrou ainda que, conforme depoimentos e registros das investigações, Julinere demonstrou animosidade contra Renato e chegou a afirmar que ele “não viveria para gastar o que tomou dela”.
O co-mandante Cesar Jorge Sechi também continuará preso. A defesa pediu reconsideração argumentando que a fase investigativa estava concluída, mas o juiz afirmou que o encerramento da investigação não reduz a periculosidade atribuída ao réu, que teria coordenado o pagamento e a logística do crime. Por isso, a prisão preventiva foi mantida.
Os executores Jackson Pereira Barbosa e Ícaro Nathan Santos Ferreira, ambos policiais militares, também seguem presos. No caso de Jackson, a defesa pediu soltura, prisão domiciliar e transferência da Cadeia Pública de Chapada dos Guimarães para uma unidade militar em Cuiabá, alegando risco à saúde e ilegalidade da custódia. O juiz negou todos os pedidos e lembrou que Jackson continuou praticando crimes mesmo preso no Batalhão da Rotam, sendo flagrado com um celular e uma faca e investigado por comandar, de dentro da unidade, um golpe envolvendo uso indevido do nome do presidente do Tribunal de Justiça. Para o magistrado, esse histórico demonstra alto risco e impossibilidade de permanência em instalações militares.
Ícaro também teve os pedidos negados, incluindo solicitação de escolta para participar de exames de promoção na PM. O juiz afirmou que não houve fato novo capaz de afastar o risco à ordem pública e à instrução criminal, já que o réu teria fornecido a arma e participado de ações para dificultar as investigações.
Sem nulidades reconhecidas e com materialidade e indícios de autoria confirmados, o processo foi declarado saneado. O juiz marcou as audiências da fase de instrução: 10 de dezembro de 2025 para testemunhas de acusação; 11 de dezembro para testemunhas de Jackson e Ícaro; e 17 de dezembro para testemunhas de Julinere e Cesar. Também determinou acesso das defesas a todos os procedimentos já juntados aos autos.
A ação penal avança agora para a etapa de depoimentos, antes da decisão sobre envio ou não dos réus a júri popular.


