NO FERRUGEM
Relatório aponta que diretor de presídio chamou magistrados de “desembargadorzinho de merda”
Nickolly Vilela
Relatório de inspeção realizada em outubro na Penitenciária Dr. Osvaldo Florentino Leite Ferreira, em Sinop (MT), aponta que o diretor da unidade, Adalberto Dias de Oliveira, teria feito ofensas diretas a integrantes do Poder Judiciário e desafiado reiteradamente a autoridade do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), segundo depoimentos colhidos de presos durante a fiscalização.
De acordo com o documento, internos relataram que o diretor se referia a magistrados de forma depreciativa, utilizando expressões como “desembargadorzinho de merda”, “desembargadorzinho de bosta” e “juizinho de bosta”, além de afirmar que decisões judiciais não teriam efeito prático dentro da unidade.
Um dos depoimentos aponta que, após a saída do desembargador Orlando Perri do presídio, o diretor teria zombado dos internos ao dizer que “não era aquele desembargadorzinho de merda que iria tirar ele do cargo”. Outro preso afirmou que o diretor declarou que “o Geraldo Fidelis jamais” teria condições de afastá-lo da função, acrescentando que “nosso desembargadorzinho, nosso juizinho de merda não são capacitados para tirar ele de lá”.
Ainda segundo os relatos, durante a visita do juiz Geraldo Fidelis à unidade, o diretor teria dito aos presos: “não adianta vocês virem com esse juizinho de bosta que vocês arrumaram aí, que ele não vai fazer nada”. Em outro depoimento, um interno afirmou que, após a saída das autoridades, o diretor “riu dos presos e disse que é ele que manda lá”, acrescentando que “depois que eles vão embora, tudo volta a ser igual ou pior”.
O relatório destaca que uma semana antes da inspeção de 2025, o presídio já havia passado por outra vistoria do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Prisional (GMF), com a presença do desembargador Orlando Perri e do juiz Geraldo Fidelis. Mesmo assim, poucos dias depois, a equipe constatou um ambiente de menosprezo e deboche em relação à atuação do Judiciário.
Para os responsáveis pela inspeção, a repetição de condutas semelhantes ao longo dos anos, sem mudanças estruturais perceptíveis, reforça entre presos e familiares a percepção da existência de um “poder paralelo” na unidade, que se sobreporia às decisões do Tribunal de Justiça. O relatório conclui que a sucessão de advertências e inspeções sem efeitos concretos tem alimentado a descrença quanto à efetividade do controle judicial sobre o presídio.



