MENTORA INTELECTUAL E FINANCIADOR
MP aponta mulher como mentora e marido como financiador de morte de advogado
Kamila Araújo

O Ministério Público de Mato Grosso ofereceu denúncia contra os empresários Julinere Goulart Bentos e Cesar Jorge Sechi, apontados como os mandantes do assassinato do advogado Renato Nery, ocorrido em julho de 2024, em frente ao escritório da vítima, na avenida Fernando Corrêa da Costa, em Cuiabá.
Segundo o MP, o casal teria articulado e financiado o homicídio, motivado por uma antiga disputa por terras no município de Novo São Joaquim. A divergência judicial, que se arrastava há décadas, teve desfecho favorável a Nery, fato que, conforme as investigações, teria provocado a reação extrema dos empresários.
A denúncia apresentada sustenta que o crime foi cometido por motivo torpe, com perigo comum e com recurso que impossibilitou a defesa da vítima, caracterizando homicídio triplamente qualificado. O órgão ministerial também incluiu na acusação o crime de organização criminosa, ao considerar a estrutura articulada para execução do homicídio.
No documento, os promotores classificam Julinere como mentora intelectual do crime, enquanto Cesar seria o financiador e articular.
Durante a apuração, ficou evidente que Julinere nutria profundo rancor contra o advogado e chegou a ameaçá-lo de morte em diversas ocasiões. Ela também teria sido responsável por estabelecer os contatos com os executores. Segundo o MP, a própria empresária teria admitido, de forma informal, sua participação no plano criminoso.
Já Cesar Sechi é acusado de ter financiado a execução, repassando R$ 200 mil aos envolvidos, incluindo um intermediário. A ligação dele com os assassinos ficou ainda mais clara após o crime, quando um bilhete de cobrança foi enviado diretamente a ele, demonstrando, segundo o MP, que os executores sabiam exatamente quem era o mandante.
Além do casal, outras pessoas já foram denunciadas pelo assassinato e são réus em processo que tramita na justiça criminal. O policial militar Heron Teixeira e seu caseiro, Alex Roberto, confessaram envolvimento. Alex foi identificado como o autor dos disparos que mataram Nery e afirmou ter recebido R$ 100 mil para cometer o crime. Já Heron teria recrutado o caseiro dois meses antes da execução.
A Polícia Civil também apurou que policiais militares do Batalhão Rotam teriam participado de uma ação para encobrir o crime, simulando um confronto com o objetivo de fazer desaparecer a arma usada no assassinato. Entre os envolvidos estão Jorge Rodrigo Martins, Wailson Alessandro Medeiros Ramos, Wekcerlley Benevides de Oliveira e Leandro Cardoso. Eles chegaram a ser presos preventivamente, mas foram soltos por decisão judicial.
Outro militar, Ícaro Nathan Santos Ferreira, permanece detido por envolvimento direto na trama criminosa.
Renato Nery foi baleado no dia 5 de julho de 2024, quando chegava ao seu escritório de advocacia. Chegou a ser socorrido com vida e passou por cirurgia de emergência, mas não resistiu aos ferimentos e morreu horas depois.