USOU NOME DE DESEMBARGADOR
Sargento recebeu R$10 mil da esposa de PM preso por executar Renato Nery; Celular é apreendido na cela de policial
Patrícia Neves

Investigações da Polícia Civil e da Polícia Militar apontam que o 2º Sargento Eduardo Soares de Moraes, lotado no Batalhão da Rotam, que foi preso em flagrante por falsidade ideológica e associação criminosa, recebeu R$ 10 mil em espécie de Laura Kellys. A mulher é a companheira do cabo PM Jackson Pereira da Silva, que está preso por envolvimento na morte do advogado Renato Nery, registrado em julho de 2024.
Jackson está detido em uma cela dentro da sede do Batalhão da Rotam. Nessa mesma cela, um aparelho celular da marca Samsung foi apreendido horas após a ‘entrega’ do dinheiro, após uma revista determinada pelo comandante da Rotam.
A investigação iniciou-se depois que o nome do presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), desembargador José Zuquim Nogueira, foi usado como se ele fosse o autor da encomenda do dinheiro. O desembargador gravou um vídeo onde explica que a ocorrência foi registrada na guarita de entrada do tribunal no dia 12 de agosto.
O caso veio à tona depois que o motorista de aplicativo, R.F.B., desconfiou da situação ao perceber que não havia um destinatário claro para a encomenda e acionou a segurança institucional do TJMT. O envelope continha notas de R$ 200, R$ 100 e R$ 50, totalizando R$ 10 mil em espécie, e a “corrida” havia sido solicitada em nome do próprio presidente do TJ.
Diante do ocorrido, a segurança do Tribunal iniciou imediatamente a apuração dos fatos com auxílio do sistema de monitoramento por câmeras. Através das imagens, o autor da entrega do dinheiro foi identificado como o Sargento Eduardo Soares, que se apresentou no local a bordo de um Corolla prata, acompanhado de uma mulher de cabelos escuros. Ambos foram filmados acessando a recepção do Fórum sem realizar o cadastro obrigatório de entrada.
Segundo depoimentos e a investigação preliminar, o sargento Eduardo teria agido a mando do cabo Jackson Pereira da Silva, que está preso em decorrência da investigação sobre o assassinato do advogado criminalista Renato Nery. Em entrevista preliminar, o sargento afirmou que, enquanto conversava com o cabo Jackson na cela da ROTAM, recebeu o pedido para encontrar-se com a esposa dele, Laura Kellys, e auxiliá-la em uma entrega de dinheiro.
“No interrogatório do suspeito Eduardo, em outros termos, foi
confirmada a sua presença no Fórum de Cuiabá com a pessoa de Laura Kellys
(companheira do Sgt. Jackson Pereira Barbosa, preso no batalhação Rotam),
pois havia um pedido de acompanhamento desta para encontrar um advogado. Afirmou, em outras palavras, que a pessoa de Laura pediu para que o
suspeito Eduardo entregasse ao motorista de aplicativo o envelope (momento em que percebeu que se tratava de dinheiro, em razão do volume das notas), porém
Eduardo – mesmo ciente de que se tratava de dinheiro – não questionou Laura a
respeito. Alegou que somente foi ajudar Laura e que desconhecia qualquer
questão relacionada a entrega de valores em nome do Exmo. Presidente do TJMT”, diz trecho da oitiva.
O caso ganha novas proporções após a revelação de que um aparelho celular foi localizado na cela do cabo Jackson, um Samsung, indicando que ele pode ter mantido comunicações externas indevidas e articulado ações mesmo em regime de custódia. Além do celular e carregador também foi encontrada uma faca (já apreendida) na cela do custodiado.