IMPACTOS REIAS
Rogério Gallo avalia Plano Soberano e alerta para risco de “nova bomba fiscal”
Patrícia Neves
O secretário de Fazenda de Mato Grosso, Rogério Gallo, avaliou com cautela o Plano Soberano, lançado recentemente pelo governo federal como resposta a retaliações econômicas dos Estados Unidos. Em entrevista à imprensa nesta sexta-feira (15), Gallo defendeu uma análise criteriosa dos impactos reais do plano sobre os setores produtivos e alertou para o risco fiscal das medidas.
“Eu acho que talvez possa ter havido aí um certo exagero em relação ao alcance, porque tem que estudar cada setor atingido. Eu espero que isso não se torne uma nova bomba fiscal, porque, de novo, os 30 bilhões ficarão de fora do teto do arcabouço fiscal. Consequentemente, isso vai gerar mais endividamento público e, consequentemente, mais individualmente o público, taxa de juros maiores, inflação – enfim, tudo aquilo que o país não precisa nesse momento”, afirmou.
Para o secretário, é necessário socorrer apenas os setores que realmente foram afetados, com base em dados concretos. Ele citou como exemplo recente uma declaração do CEO do grupo JBS, segundo a qual, mesmo após quase 30 dias das sanções, ainda não houve impacto significativo nas exportações de carne da empresa.
“Nós temos que avaliar cada setor, porque os setores são dinâmicos e podem, eventualmente, realocar sua produção. O comércio internacional são vasos comunicantes. Diminui-se uma venda para um país, mas há condição de redirecionar o produto para outros mercados, especialmente em commodities como a carne”, destacou.
Gallo também mencionou setores mais vulneráveis, como o de frutas no Nordeste, que exige medidas rápidas e específicas por conta da natureza perecível dos produtos.
“Me parece super adequado as políticas que estão sendo adotadas. Mas tem que tomar muito cuidado para que isso não vire, novamente, uma mamata para alguns setores que efetivamente não vão precisar de socorro”, disse.
Em relação ao setor madeireiro de Mato Grosso, o secretário confirmou que o Estado irá atuar de forma complementar às ações do governo federal. “O papel de controlar as relações internacionais de mercado é do governo federal. O governo federal apresentou suas medidas. Agora vamos sentar com o setor e entender o que ainda é necessário fazer”, afirmou.
Gallo também respondeu sobre os impactos no mercado interno e a possibilidade de deflação em alguns produtos, causada pelo redirecionamento da produção que antes era exportada.
“Sim, pode acontecer sim. Uma planta de frigorífico que vendia para os Estados Unidos e não pertence a um grande grupo econômico pode ter que redirecionar para o mercado interno. Isso gera excesso de oferta e pode reduzir os preços. Frutas, por exemplo, certamente terão que ser redirecionadas, e devemos assistir uma deflação dos preços de algumas delas”, explicou.
Por fim, Gallo disse não acreditar que essas mudanças pontuais irão gerar um impacto inflacionário relevante no país como um todo. “Pontualmente, sim, haverá deflação. Mas não acredito que isso aí haverá um impacto sistêmico muito grande na inflação de um modo geral”, concluiu.