MORTE DE PEIXES
Rebaixamento de Usina de Colíder causou impactos ambientais, diz laudo da Politec
Da Redação
O rebaixamento de emergência da Usina Hidrelétrica de Colíder (650 km ao norte de Cuiabá) causou impactos ambientais no Rio Teles Pires, como a mortandade de peixes e erosões nas margens do reservatório. A constatação é da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec), que elaborou um laudo técnico a pedido do Ministério Público do Estado de Mato Grosso (MPMT).
A medida emergencial foi necessária após quatro dos 70 drenos da barragem apresentarem problemas. Para evitar riscos às comunidades da região e garantir a segurança da estrutura, desde junho vem sendo realizado o rebaixamento gradual do nível do reservatório, o que, entretanto, trouxe prejuízos ambientais e socioeconômicos.
A perícia foi determinada pelo MPMT diante de indícios de deterioração no sistema de drenagem da usina, que poderiam comprometer a integridade da barragem e gerar impactos diretos sobre a fauna aquática e terrestre, a qualidade da água, a estabilidade das margens e a segurança hídrica regional.
“Nós constatamos um evento de mortandade de peixes em andamento, que possuem uma função ecossistêmica importante. A morte dos peixes foi causada pelo rebaixamento do nível do reservatório, o que resultou no aprisionamento de algumas espécies em poças d’água. Também em virtude do rebaixamento do reservatório foram detectadas erosões e decaimento das margens. A qualidade da água em alguns trechos do reservatório vem apresentando piora de índices, como oxigênio dissolvido e turbidez”, apontou o perito oficial Rafael Nunes.
O perito criminal Cristiano Ribeiro ressaltou que a erosão observada não se limita a um risco estrutural, mas representa um dano ambiental efetivo, pois altera a qualidade da água, compromete habitats aquáticos e potencializa impactos cumulativos sobre a fauna e a flora da região.
“Durante a perícia verificamos que o rebaixamento acelerado do reservatório da UHE Colíder desencadeou uma série de processos erosivos, incluindo fissuração em solos argilosos, abertura de gretas de contração, rastejamento, deslizamentos e piping. Esses fenômenos vêm promovendo o decaimento das margens e o carreamento de sedimentos para o corpo hídrico principal, aumentando a turbidez e acelerando o assoreamento em áreas de remanso”, avaliou o perito.
Durante os levantamentos foram observados e registrados fenômenos como fissuras, gretas de contração em solos argilosos, erosão interna (piping), erosão superficial, instabilidade de taludes e desmoronamentos marginais, além do carreamento de sedimentos para o corpo hídrico principal.
Os exames também apontaram a necessidade de adoção imediata de medidas emergenciais para proteção da coletividade, do meio ambiente e da segurança pública, como a contenção das erosões, a estabilização de taludes, o monitoramento geotécnico contínuo e o resgate de peixes em áreas críticas.
O laudo reforça ainda a necessidade de um manejo operacional controlado, que reduza as variações bruscas no fluxo de água (gradientes hidráulicos) e evite a formação de poças isoladas. A Politec recomenda a desobstrução do sistema de drenagem, com monitoramento piezométrico e acompanhamento constante das vazões dos drenos.
A Usina de Colíder entrou em operação em 2019 e possui capacidade instalada de 300 MW, suficiente para atender cerca de 850 mil habitantes. O empreendimento é considerado estratégico para o sistema elétrico da região norte do estado, mas a situação atual reforça a importância do monitoramento ambiental e da segurança de barragens em todo o país, especialmente na bacia do Teles Pires, que abriga outras hidrelétricas de grande porte.