ESTIAGEM
Falta de chuvas trava plantio e força replantio, irrigação e aumento de custos no médio-norte de MT
Kamila Araújo
A escassez de chuvas voltou a comprometer o avanço da safra 2025/26 no médio-norte de Mato Grosso. Em novo episódio do projeto Mato Grosso Clima e Mercado, da Aprosoja-MT, produtores de Tapurah, Ipiranga do Norte e Sorriso relataram atrasos no calendário agrícola, replantio acima do esperado, uso emergencial de irrigação e aumento expressivo dos custos de produção.
O vice-presidente Norte da entidade, Diogo Balistieri, percorreu propriedades dos três municípios nesta quinta-feira (20) para ouvir os relatos de quem tem enfrentado uma das piores irregularidades climáticas dos últimos anos.
Replantio chega a 10% da área e inviabiliza milho safrinha em Tapurah
Em Tapurah, o delegado da Aprosoja local, Régis Porazzi, afirmou que ainda precisa replantar 10% da lavoura devido à falta de umidade no solo. Segundo ele, até mesmo o replantio foi interrompido por ausência de chuva.
Porazzi alerta que a janela de plantio já não garante a viabilidade da próxima safra de milho no talhão afetado.
“É um ano extremamente desafiador. Começamos o replantio em 13 de novembro, totalmente fora do ideal. Essa área não comporta mais milho; o estande ficou inviável e tivemos que refazer. E muitos produtores aqui estão na mesma situação”, afirmou.
O atraso também elevou custos e aumentou riscos fitossanitários.
“A soja nessa janela terá pressão maior de mosca-branca, doenças e percevejos. E, além disso, enfrentamos custos altíssimos com insumos e retrabalho”, completou.
Produtor recorre a pivô para salvar lavoura em Ipiranga do Norte
Em Ipiranga do Norte, o produtor Vitor Gatto confirmou que a irregularidade das chuvas — fracas e mal distribuídas — afetou seriamente o desenvolvimento das plantas. Para evitar o replantio, ele acionou pivôs de irrigação além do planejado.
“Foi a única saída para salvar a soja. A irrigação ajudou, mas tem custo alto. A energia elétrica pesa muito”, disse.
Mesmo assim, Gatto prevê perdas de produtividade, já que a cultura entrou no período reprodutivo sob estresse hídrico: “É a fase que mais exige água.”
Plantio mais longo da história recente e falta de armazenagem em Sorriso
No maior produtor de grãos do país, Sorriso, o delegado da Aprosoja, Diogo Damiani, relatou que o plantio foi um dos mais demorados já registrados no município. A chuva que vinha acumulando em setembro praticamente desapareceu em outubro.
“Foram 30 dias com apenas 18 mm de chuva. Finalizamos o plantio no dia 5 de novembro, um dos períodos mais longos da nossa história”, afirmou.
Damiani também chamou atenção para outro problema estrutural: a falta de armazenagem. Segundo ele, Sorriso tem capacidade para guardar apenas metade do que produz, obrigando muitos produtores a utilizar bolsões para estocar grãos.
Retrato de uma safra pressionada
O levantamento da Aprosoja-MT mostra que os três núcleos enfrentam dificuldades semelhantes:
chuvas irregulares ou insuficientes;
replantio acima do esperado;
produção sob irrigação emergencial;
aumento dos custos de manejo;
risco elevado de pragas e doenças;
atraso generalizado no calendário da soja.
Para a entidade, o episódio expõe a realidade dos produtores em um dos ciclos mais incertos da última década. Segundo Balistieri, o objetivo é mostrar ao estado e ao país o impacto direto da falta de chuva sobre a maior região produtora de grãos de Mato Grosso.


