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Hospital de Câncer opera no vermelho e cobra revisão do Estado sobre repasses do SUS
Nickolly Vilela
O Hospital de Câncer de Mato Grosso arrecada menos do que gasta para manter os atendimentos e tem enfrentado dificuldade crescente com a defasagem dos repasses do SUS, que remunera apenas cerca de 43% do custo real dos procedimentos.
A informação é do diretor-presidente Laudemir Moreira Nogueira, que afirma que, sem as parcerias privadas e institucionais construídas ao longo dos anos, o hospital não conseguiria existir. “A remuneração do SUS é muito baixa e ele é nosso principal cliente. Se não fossem essas parcerias, não haveria hospital de câncer funcionando”, disse.
Ele destacou que toda a operação é transparente e que, há cerca de 15 dias, pediu formalmente à Assembleia Legislativa o envio de um pedido de auditoria ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), iniciativa que já foi atendida. “Alguns deputados até estranharam, porque geralmente as pessoas vêm aqui pedir para que a auditoria não aconteça”, comentou.
O diretor ainda lembrou que, até setembro de 2024, os repasses do Ministério da Saúde ficavam retidos meses na Prefeitura de Cuiabá, algo que melhorou com o pagamento direto via Estado. Ainda assim, a gestão Emanuel Pinheiro (MDB) deixou uma dívida de R$ 14 milhões, reconhecida pela atual administração, que está judicializada e deve ser parcelada.
Apesar do fluxo estadual ser mais estável, Laudemir afirma que o problema agora é a interpretação do contrato de R$ 7,8 milhões mensais. O Estado tem aplicado uma metodologia própria que calcula médias por blocos de procedimentos, reduzindo os repasses.
“Teve mês que recebemos R$ 3,4 milhões. Este mês pediram nota de R$ 4,6 milhões. Não é crível. O hospital não produziu menos. É uma dinâmica de avaliação equivocada”, criticou. Segundo ele, o Estado alega que o hospital não cumpre as metas quantitativas, enquanto relatórios internos mostram o contrário, por isso o pedido de auditoria.
Outro ponto é que cerca de R$ 1 milhão do contrato seria destinado à medicina nuclear, que ainda não foi implantada porque o governo não avançou nos investimentos. Sem isso, o teto de faturamento cai para cerca de R$ 6,8 milhões. O hospital recebeu esse valor integralmente entre outubro e janeiro, mas desde então os repasses passaram a oscilar para baixo.
Mesmo diante do cenário financeiro, o Hospital de Câncer segue em obras, todas financiadas por parcerias com o agronegócio, entidades e grupos médicos interessados em atuar na unidade.
Laudemir também relatou preocupação com a possível interrupção do atendimento oncológico da Santa Casa, alerta já feito ao secretário estadual de Saúde. Ele diz que o HCan tem condições de absorver a demanda, mas apenas mediante ampliação da estrutura. Um projeto com 60 novos leitos, sendo 45 adultos e 15 infantis, foi entregue ao governo ainda em fevereiro, mas não houve encaminhamento.
O diretor afirma que o hospital não tem limite para atendimento e pode atender mais e melhor, desde que haja contrapartida do Estado. Ele lembra que o governador já tinha manifestado preocupação com a manutenção do Hcan como referência oncológica de Mato Grosso.
Além disso, o hospital deve receber nesta semana a certificação ONA, tornando-se o único da rede pública estadual com o selo de qualidade. “É importante que a sociedade saiba que aqui existe compromisso, seriedade e capacidade de ampliar o atendimento, desde que haja parceria efetiva”, concluiu.


