A Delegacia de Homicídios revelou que a esposa de José Wallace dos Santos Lins, morto por integrantes de uma facção rival, foi obrigada a registrar um boletim de ocorrência falso denunciando agressões domésticas. A versão forjada teria sido imposta pelos criminosos logo após quebrarem o braço da mulher, exigindo que ela confirmasse a história na delegacia.
A mulher, sob coerção, foi levada a apresentar sua oitiva aos próprios faccionados antes de entregá-la à polícia, razão pela qual inicialmente relatou ter sido agredida pelo marido. De acordo com o delegado, o casal tinha conflitos comuns de convivência, mas nada que justificasse a narrativa apresentada.
“Foi uma situação absolutamente fora do normal”, disse, acrescentando que até um travesti da região foi morto sem qualquer motivo, demonstrando o grau de arbitrariedade imposto no bairro.
Durante a investigação, a Polícia apurou que José acabou sendo executado após presenciar um “salve” aplicado a outro morador. Questionado por membros da organização criminosa, negou pertencer ao grupo rival, mas foi confrontado ao terem identificado tatuagens no corpo — entre elas o Tio Patinhas e o número três, associado ao Primeiro Comando da Capital.
Os criminosos não acreditaram na negativa e, ainda durante a confusão, buscaram a esposa para acessar o celular do casal, momento em que ela teve o braço quebrado por se recusar a fornecer a senha.
Embora José tivesse histórico criminal em Alagoas, a polícia afirma não haver indícios de que ele ainda integrava alguma facção após se mudar para Mato Grosso, onde trabalhava como açougueiro.
A motivação do crime, segundo as investigações, foi exclusivamente a tatuagem que remetia a um grupo rival. Diante do clima de terror instaurado na comunidade, a operação deflagrada pela Delegacia de Homicídios buscou reafirmar que “nenhuma organização criminosa substituirá o Estado Democrático de Direito”, ressaltou o delegado.



