Em meio à investigação do acidente com uma arma carregada de munição real, que matou a diretora de fotografia Halyna Hutchins e feriu o diretor Joel Souza no set do western “Rush”, denúncias de equipes que trabalharam anteriormente com a armeira Hannah Gutierrez-Reed e o diretor assistente David Halls em projetos anteriores têm apontado a falta de profissionalismo dos dois responsáveis pela segurança da produção.
Hannah Gutierrez-Reed é filha de um dos maiores atiradores dos EUA, Thell Reed, grande campeão de competições de tiros e que também é um dos armeiros mais requisitados de Hollywood, responsável pelas armas usadas em filmes como “Tombstone” (1993), “Los Angeles: Cidade Proibida” (1997), “Os Indomáveis” (2007) e o recente “Era uma Vez em… Hollywood” (2019). A jovem de 24 anos conseguiu emprego nesta área por indicação do pai e “Rust” foi apenas seu segundo longa.
Agora, uma apuração do site Daily Beast afirma que ela também teve problemas em seu primeiro trabalho. O longa “The Old Way”, com Nicolas Cage, chegou a ter filmagens interrompidas porque a armeira teria dado uma arma para uma menina de 11 anos de idade sem verificar corretamente seu carregamento.
Segundo uma fonte da produção, membros da equipe interviram para que a arma dada à atriz infantil Ryan Kiera Armstrong fosse verificada antes do começo das filmagens, porque Gutierrez-Reed tinha descarregado a arma no chão, “onde havia pedrinhas e outras coisas”, segundo relato. “Não a vimos checar, não sabíamos se tinha alguma coisa no barril ou não”, disse a fonte à publicação.
A fonte também a descreveu como “um pouco descuidada com as armas, balançando elas de vez em quando”. Outra fonte acrescentou: “Havia várias preocupações que levei à atenção da produção. Estive com armas de fogo minha vida inteira e notei que algumas coisas não estavam bem.”
Descuido com segurança também foi uma crítica dirigida a David Halls, o diretor assistente que entregou a arma a Alec Balwin e disse que ela não tinha munição, conduzindo à fatalidade.
Uma produtora de adereços que trabalhou com Halls na série “Into the Dark” afirmou em entrevista para o canal de notícias americano NBC News que ele era conhecido por não prezar pela segurança no ambiente de trabalho.
“Ele não mantinha um ambiente de trabalho seguro”, disse Maggie Goll ao canal. “Ele permitia que os sets ficassem cada vez mais claustrofóbicos, sem rotas de fuga em caso de incêndio e com as saídas de emergência bloqueadas… Reuniões sobre segurança nem existiam”.
Goll afirma que, uma vez, Halls exigiu que as câmeras continuassem filmando mesmo depois de o técnico de pirotecnia — responsável pelos efeitos especiais que envolvem fogo — avisar que havia algo errado. Além disso, ele não costumava fazer reuniões para orientar a equipe sobre protocolos de segurança quando uma cena envolvia armas.
O site Deadline procurou uma declaração da produtora Blumhouse, responsável pela série “Into the Dark”, sobre investigações sobre o comportamento de Halls, após o registro de uma queixa contra ele em 2019.
Em nota, a Blumhouse apenas afirmou que o diretor assistente trabalhou em dois episódios naquele ano “e não foi recontratado depois dessa época”. O estúdio não explicou porque não quis voltar a trabalhar com ele, mas o Deadline ouviu de uma fonte que Halls foi “muito agressivo” e “intimidador no set” durante as gravações.
Nem David Halls nem Hannah Gutierrez-Reed se manifestaram após estas reportagens virem à tona.
Vale destacar que nenhuma acusação foi feita contra ninguém na produção de “Rust” pelo departamento do Xerife de Santa Fé, no Novo Méxica, que investiga as causas da morte de Halyna Hutchins. Além disso, a polícia também segue relatos sobre funcionários da produção que praticaram tiro ao alvo com munição de verdade com as armas utilizadas no set, durante os horários de folga.