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Mulheres na liderança: Margaret Thatcher

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Recentemente, li o livro Liderança segundo Margaret Thatcher, no qual os britânicos Nile Gardiner e Stephen Thompson fazem um breve relato da carreira política da Dama de Ferro, produzindo uma obra panfletária de ideias políticas conservadoras. Publicado originalmente em 2013, durante o segundo mandato de Barack Obama, a obra incita os conservadores norte-americanos— sejam líderes políticos ou simples cidadãos—a se empenharem na defesa de seus ideais para reconduzir um Republicano ao Salão Oval—o que de fato ocorreu em 2016.

Neste artigo, procurei extrair ensinamentos de liderança que extrapolam a política norte-americana. Na realidade, Thatcher exerceu uma liderança mundial, não só influenciando os rumos da geopolítica em plena Guerra Fria, como também inspirando pessoas “comuns” a tornarem-se protagonistas em suas vidas e a não viverem dependendo de tutela de Estados paternalistas.

“Acreditamos que os indivíduos têm direito à liberdade que nenhum Estado pode tirar. Que o governo é o servo do povo, não seu senhor.” – M.T.

A Dama de Ferro

O primeiro capítulo da obra lembra-nos da real envergadura histórica de Margaret Thatcher. Quando de sua morte, em 2013, vários líderes mundiais e dezenas de milhares de conterrâneos presenciaram o funeral mais solene para um político desde o de Winston Churchill.

Com outros milhões assistindo pela televisão, Thatcher ainda atraía a atenção depois de 25 anos após o fim de sua carreira política. Foi atraindo a atenção de um jornalista e oficial do exército russo que Thatcher ganhou o título de “Dama de Ferro”. Em 1976, num discurso realizado em uma câmara municipal, a líder conservadora alertava para o perigo que a URSS representava para a Grã-Bretanha. Yuri Gavrilov, impressionado com o discurso, publicou-o no jornal Estrela Vermelha, colocando essas duas palavras (Iron Lady) na manchete, a sua intenção era comparar Thatcher a Otto von Bismarck, o “Chanceler de Ferro”.

“Não acredito que a história seja clara e incontestável. Ela não simplesmente acontece. A história é feita por pessoas.” – M.T.

Importante lembrar o contexto em que Margaret Thatcher se tornou primeira-ministra. No final da década de 70, a Grã-Bretanha era chamada de “o homem doente da Europa”, fustigada por inflação, desemprego, crimes e agitação sindical. Foi Thatcher quem apelou para o renascimento de uma grande nação, rejeitando e culpando as ideias socialistas, há muito, defendidas e implementadas naquele país. Como resultado de sua liderança, foi o thatcherismo, não o socialismo, a ideologia dominante na Grã-Bretanha na década seguinte.

Lições-chave de liderança do Thatcherismo

“Os indivíduos certamente farão muito mais esforços em nome de si próprios e de suas famílias do que jamais fariam por uma entidade impessoal chamada ‘governo’.” -M.T.

O thatcherismo possui uma forte base cristã. A liberdade é, segundo a Dama de Ferro, a condição em que um indivíduo pode exercer seus talentos dados por Deus, expressar a sua identidade e exercer seu direito à propriedade privada. Portanto, o estado de direito é a exigência mais importante para uma sociedade livre, e um governo
limitado é a chave para que as políticas públicas estejam ancoradas na natureza humana.

A seguir, seguem-se algumas das lições-chave de liderança do thatcherismo, importantes para todos os indivíduos que exerçam algum tipo de liderança:

Fé e famílias fortes são motores importantes para forjar lideranças bem-sucedidas.

Não tenha medo de falar sobre o papel das virtudes cristãs no avanço de uma sociedade livre e próspera, incluindo a ajuda ao próximo sem a dependência de intervenção do Estado.

Defenda os valores tradicionais que têm sido a espinha dorsal do sucesso do Ocidente nos últimos 200 anos, mesmo que pareçam “fora de moda”.

Grandes líderes estão dispostos a rejeitar a política de consenso e a traçar seu próprio caminho. O thatcherismo enfrentou o establishment e mostrou que o declínio pode ser revertido, um grande líder nunca admite que os melhores dias ficaram para trás.

Os conservadores não devem deixar os esquerdistas denegrirem sua grandeza ou reescrevê-la para promover sua agenda “progressista”.

O governo não tem o monopólio da compaixão. Pessoas livres não podem transferir a responsabilidade moral para políticos e burocratas.

Não tenha medo de desafiar a sabedoria convencional.

Thatcher ofereceu uma alternativa aos dogmas socialista e keynesiano. Liberdade econômica é vital para a criação de riqueza e prosperidade. A ruína econômica britânica nos anos 70 foi resultado de governos cada vez maiores. Os conservadores devem garantir a limitação do Estado.

Nunca presuma que o governo sabe o que é melhor quando se trata de sucesso econômico. Confie nos instintos dos empreendedores e desconfie dos conselhos de burocratas e de grandes empresas próximas ao governo.

A vitória sempre vai para os bravos. Coragem e disposição para assumir riscos são marcas de uma liderança de sucesso. A coragem deve ser acompanhada pela convicção em defender as crenças e princípios. Promover liberdade econômica envolve escolhas difíceis e impopularidade potencial.

O Brasil pode evitar o naufrágio social e econômico controlando os gastos do governo, reduzindo o tamanho do estado de bem-estar social, cortando impostos, desregulamentando a economia e avançando na defesa dos direitos fundamentais de liberdade de expressão e de propriedade privada.

Lições da Guerra Fria

“Os ditadores podem ser dissuadidos, podem ser esmagados, mas nunca podem ser saciados.” – M.T.

O mandato de Margaret Thatcher foi marcado, assim como o de seu amigo Ronald Reagan, por um tipo de liderança no cenário mundial que se tornou virtualmente extinto no século XXI. Possuidora de fortes convicções, Thatcher considerava a conciliação como um sinal de fraqueza, uma traição ao interesse nacional britânico. Segundo ela: “Sempre haverá conflito: é parte da natureza humana, parte da batalha eterna entre o bem e o mal. Sempre haverá aqueles preparados para usar a força a fim de atingir seus objetivos, os ditadores não se tornarão, de uma hora para outra, uma espécie extinta.”

Importante notarmos que, em muitos aspectos, vivemos em um mundo ainda mais perigoso do que era na época de Thatcher e Reagan, e lembrar que foi a confrontação exercida por esses líderes que derrubou a ideologia totalitária que rivalizava pelo protagonismo mundial. Talvez devêssemos, portanto, colher o ensinamento de que não é fazendo concessões que se conseguirá sobrepujar outra ideologia totalitária hoje.

A seguir, listei algumas lições-chave de liderança que todos aqueles desejosos de um mundo livre podem aprender com a ação política de Thatcher:

Um líder poderoso nunca se curva ao mal, mas sempre o confronta.

A conciliação com seus inimigos é uma política que somente os encoraja.

Permaneça sempre firme ao lado da liberdade em face dos regimes totalitários.

Faça sua voz ser ouvida em apoio aos dissidentes políticos lutando contra a tirania e demonstre estar com eles em palavras e ações.

Lições da Guerra das Malvinas

A Guerra das Malvinas foi um momento decisivo na história da Grã-Bretanha. Não irei discorrer sobre o conflito, as motivações políticas ou os aspectos militares. Importa aqui listar as lições-chave que nós, militares, podemos aprender com a postura firme da Dama de Ferro durante aquela campanha:

Um líder forte deve estar preparado para agir com rapidez e decisão, especialmente em tempos de crise.

Procrastinação é a antítese da liderança eficaz.

Procure ouvir conselheiros e colegas, mas sempre esteja preparado para seguir seus instintos. Não se deixe dissuadir por medrosos.

Tenha fé na grandeza do seu país e nas forças armadas que o defendem.

Nunca delegue a liderança nacional a instituições supranacionais, como as Nações Unidas.

Sempre enfrente o agressor. Envie um sinal claro de que atos de agressão serão punidos.

A liberdade deve ser sempre protegida por meio de uma defesa forte. Fraqueza militar apenas convida ao ataque.

Esteja sempre preparado para uma guerra inesperada. Não há espaço para a complacência.

Conclusão

O mundo é um lugar muito melhor por causa da liderança da primeira mulher primeira-ministra da Grã-Bretanha. Thatcher ganhou três eleições gerais — e fez seu sucessor — não por adaptar seu governo à opinião pública, mas por ter convicções conservadoras claramente definidas. Sua visão política foi baseada em princípios, não em modismos.

Aprendemos com a Dama de Ferro que o declínio de um país não é inevitável, que a nossa liberdade não está garantida sem uma vigilância constante e que “não é o Estado que cria uma sociedade saudável. O Estado esgota a sociedade não só de suas riquezas, mas de iniciativa, de energia, da vontade de melhorar e inovar e também de preservar o que há de melhor”.

A derrocada do Ocidente já foi prevista no passado e ela só não aconteceu graças aos esforços de indivíduos zelosos pela liberdade, todos liderados por pessoas como Margaret Thatcher. Hoje, enfrentamos desafios semelhantes. Cabe a todos nós não nos esquecermos daqueles princípios e valores tão fortemente defendidos pela Dama de Ferro.

 

Tiago Pedreiro de Lima é Major do Exército Brasileiro

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