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A supressão da liberdade e a destruição de valor

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O conceito de valor é complexo e multidimensional. Para clientes de uma organização, o valor de um bem adquirido corresponde à sua capacidade de satisfazer a desejos, necessidades, ou de resolver problemas que lhes causem desconforto e preocupação. Por essa razão, poupar esforços de clientes é um dos mais expressivos atributos de valor de um bem comercializável. Aliás, da perspectiva dos usuários, quanto maiores os benefícios trazidos pelo bem, maior a percepção de seu valor. Para o americano David Garvin, o valor de um bem é quantificado pelas dimensões de qualidade que ele possui. Logo, é bastante usual que as organizações busquem investir tempo e dinheiro no aperfeiçoamento do desempenho, da estética, da durabilidade e dos demais atributos que os clientes costumam apreciar nos bens que adquirem. Porém, embora o comportamento do consumidor possa ser estudado, nem sempre é trivial divisar o que exatamente ele valoriza. Análises sociológicas mostram que sua percepção de valor é influenciada por fatores sociais, culturais, psicológicos e diversos outros. Contudo, são as características pessoais como as experiências, o estilo de vida, a idade, a ocupação e a condição econômica que melhor definem o valor de um bem na concepção do consumidor final. Assim, dada a singularidade da combinação de tantas variáveis, não resta dúvida de que o valor de todo o universo ao redor de um indivíduo carrega um caráter mutável e subjetivo, que precisa ser compreendido e examinado para a viabilidade das trocas comerciais.

Para o economista austríaco Carl Menger, o valor de um bem é função de sua utilidade, isto é, de seu potencial em ser útil e de se apresentar como meio para a realização dos planos e propósitos humanos. Para Ayn Rand, a definição de valor pressupõe a liberdade de escolha e a racionalidade para que cada um decida por aquilo que julga melhor para si. Rand ainda afirma que uma sociedade que usa da força coercitiva do Estado para limitar a liberdade individual ou para privar o indivíduo de usufruir do fruto de seu trabalho, de seu esforço, não pode ser chamada de sociedade, pois, destrói os valores da coexistência humana e passa a ser uma ameaça a sua sobrevivência. Para Rothbard, nenhum ato estatal pode aumentar a utilidade social, pois, enquanto no livre mercado há harmonia e cooperação na produção de bens e em suas trocas, as intervenções estatais criam grupos de interesses e conflitos, o que reduz a utilidade para os indivíduos. Assim, fica evidente que, em sociedades coletivizadas, eventos que deveriam ser usuais como abrir um negócio, construir uma casa, conquistar um emprego, entre outros, se tornam um verdadeiro pesadelo. Não há mais dignidade humana e, ainda que o potencial econômico seja notável, o desenvolvimento torna-se improvável. Nesse contexto de estreitamento da liberdade, há que se perguntar: como é possível esperar por investimentos em produção, inovação e tecnologia se a coerção estatal representa o maior obstáculo à geração de valor? Se a livre iniciativa encontra toda sorte de impedimento para gerar riquezas, quem o fará?

Na gestão empresarial, gerar valor é crucial para o sucesso organizacional. Assaf Neto observa que uma organização cria valor aos seus acionistas quando o retorno de seus investimentos supera o custo de oportunidade do capital aplicado – excedente conhecido como goodwill. Para os demais stakeholders da organização, sua operação gera valor quando produz bens, emprega pessoas, conserva o ambiente, preserva recursos naturais, respeita a liberdade de escolha e as diferenças individuais, e promove ações éticas e que estejam de acordo com o ordenamento jurídico. Para sobrevir com sucesso a tantos requisitos, a gestão precisa elaborar um planejamento acurado e executar investimentos em pessoas e estruturas, de forma a se destacar da concorrência. Logo, se a organização for capaz de se adaptar às alterações ambientais, competir com os rivais e reiteradamente gerar valor aos clientes, parceiros e demais agentes do ambiente social, sua existência se torna sustentável e atrai a admiração de todos por sua capacidade de gerar e multiplicar a riqueza. Infelizmente, grande parte das empresas não relaciona ações rotineiras como contratar pessoas, adquirir insumos, desenvolver inovações, fabricar produtos e vendê-los, com os benefícios de se gerar valor. Dessa forma, muitas vezes, as oportunidades de novos negócios e de fortalecimento da posição competitiva da organização são desperdiçadas. O corolário é que a economia como um todo deixa de aproveitar seu potencial de crescimento, por prescindir da energia proveniente de empresas saudáveis, que se associam, se arriscam, criam, investem e geram valor.

Peter Senge, autor de A Quinta Disciplina, afirma que as organizações que aprendem são aquelas nas quais as pessoas se aprimoram continuamente e, então, se adaptam às alterações ambientes para conquistar vantagem competitiva sustentável. Evidentemente que o contexto do ambiente de negócios onde elas se inserem conta muito. Infelizmente, no Brasil, muito do tempo e dos recursos que poderiam ser aplicados no desenvolvimento organizacional são reservados ao propósito de superar as adversidades criadas pelo próprio Estado. A limitação de acesso ao mercado internacional por barreiras protecionistas, a rigidez da legislação trabalhista, os excessos do poder judiciário, o ativismo judicial, a burocracia intransponível e a carga tributária ultrajante são exemplos da intromissão estatal na vida privada. Ao longo do tempo, desde nossa primeira Constituição (1824), as sucessivas mudanças na legislação brasileira encurtaram a liberdade de iniciativa em troca de uma segurança utópica, patrocinada pelo Estado. Se a ignorância econômica dos legisladores responsáveis pelo avanço estatal não é justificativa para esse roteiro percorrido, somente a ação deliberada para obstar a prosperidade brasileira explica tanto retrocesso. Por que alguém estaria interessado em sabotar o bem-estar de tantas gerações? Por que os pilares do desenvolvimento de outras nações são solenemente ignorados pelos nossos governantes? Como é possível iludir a tantos, por tanto tempo? O fato é que a vastidão territorial, a riqueza natural, a ausência de problemas étnicos, religiosos, climáticos e de atritos com países vizinhos, tudo concorre para a prosperidade brasileira. Não há motivo coerente que explique a dimensão do nosso atraso, exceto talvez a mentalidade coletivista, paroquial e anticapitalista cultivada por nossas lideranças por séculos a fio. Por enquanto, resta-nos a esperança de que um dia a população desperte desse caminho da servidão e que o anseio por liberdade seja o maior de nossos valores.

 

Vinícius Montgomery de Miranda é graduado e mestre pela Universidade federal de Itajubá, MBA em Gestão Financeira pela Unitau. Consultor de empresas e professor de Economia e Finanças.

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