Em 1901, o médico Duncan MacDougall, da cidade americana de Haverhill, em Massachusetts, teve a ideia de medir o peso da alma. A alma como estado ou mecanismo do corpo tangível. Com essa ideia, ele estava convencido de que provaria intrinsecamente sua existência. Segundo ele, no momento em que uma pessoa morria, seu corpo perdia o peso de sua alma, ficando livre para passar por outros espaços.
Assim, identificou seis pacientes, todos idosos que residiam em residências. Quatro deles sofriam de tuberculose, doença que naquela época nos Estados Unidos ainda significava acabar no hospital aguardando a própria morte, já que não havia tratamento.
Outro paciente sofria de diabetes e as causas do último são desconhecidas. O que parecia evidente em todos eles era que estavam prestes a morrer. MacDougall escolheu especificamente pessoas que sofriam de condições que causavam exaustão física, pois ele precisava que elas ficassem quietas quando morressem para que ele pudesse medi-las com precisão.
Nesses últimos dias de internamento, este médico da época fazia o seu próprio check-up: primeiro registava o peso vivo de cada pessoa e, quando parecia que algumas delas tinham apenas horas ou mesmo minutos, colocava a cama uma balança de tamanho industrial, que tinha uma sensibilidade de 5,6 gramas.
21 gramas
Com a perspectiva dos anos, a persistência que aquele homem colocou no assunto parece um verdadeiro disparate, mas MacDougall não só pesou aqueles corpos deitados, como até tirou conclusões. Um número exato: 21 gramas, era quanto a alma pesava.
MacDougall ia publicar esses resultados como um estudo na revista científica American Medicine, mas antes que pudesse fazê-lo, o New York Times divulgou a história em um artigo intitulado “A alma tem peso, como pensa um médico”. Esse texto afetou o que parecia um feito e tanto, mas nele não havia vestígios do relatório original, que não foi publicado até 1907.
O que esse médico apresentou no laudo nada mais foi do que as variáveis de perda de massa corporal de cada pessoa em seus últimos dias.Um dos pacientes havia perdido peso antes de morrer, mas depois o recuperou, escreveu ele, e dois dos outros registraram uma perda definitiva de peso logo após a morte, mas perderam ainda mais alguns minutos depois. Um deles perdeu “21,3 gramas” apenas no momento da morte.
MacDougall descartou os resultados de outro paciente porque a balança “não estava correta” e descartou igualmente os resultados do último porque o paciente morreu enquanto o equipamento ainda estava sendo calibrado.
A comunidade científica não aceitou esses dados, mas aqueles que se depararam com o artigo na imprensa sim. Ironicamente, esse número tornou-se assim uma espécie de crença popular que não parou por aí. MacDougall também fotografou os rostos de outros pacientes no momento da morte, alegando que um flash de luz etérea passou por eles naquele momento, outra evidência difícil de considerar cientificamente.
Apesar da rejeição da comunidade científica, por nunca conseguirem entender os sistemas de medição exatos que foram utilizados, o suposto “peso da alma” deu o título, em 2003, ao filme do mexicano Alejandro González Iñárritu, “21 Gramas”.