Embora ninguém saiba disso pela cobertura da mídia sobre o controle de armas, a melhor ciência social mostrou que os cidadãos cumpridores da lei frequentemente dissuadem os criminosos. Mas quando a ideologia supera os fatos, os formuladores de políticas são facilmente desviados. O exemplo mais recente está ocorrendo no Brasil, onde o aumento maciço na posse de armas nos últimos anos levou os defensores do controle de armas a reinterpretar os dados de maneira que se conformem com suas visões políticas.
Em seu primeiro ato no cargo no último domingo, o recém-empossado presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto congelando a posse de armas e proibindo a venda de novas munições. Lula também instituiu outras regras com o objetivo de retirar as armas que as pessoas adquiriram durante o governo do presidente Jair Bolsonaro.
Quando Bolsonaro se tornou presidente em 1º de janeiro de 2019, o Brasil tinha uma das maiores taxas de homicídio de qualquer país desenvolvido. A mídia internacional ridicularizou Bolsonaro por “ter seduzido dezenas de milhões de eleitores com soluções simples – embora radicais – para erradicar a violência em um dos países mais mortais do mundo”. A solução de Bolsonaro? “Dê armas para pessoas boas. Deixe as pessoas terem armas para que tenham a chance de se defender.”
Em 2019 e 2020, a mídia mundial e seus especialistas selecionados alertaram que Bolsonaro estava perigosamente errado. O Wall Street Journal alertou: “Especialistas em violência dizem que simplesmente adicionar mais armas à mistura … só fará com que a taxa de homicídios suba mais rápido”. O The Guardian do Reino Unido teme que o “altamente controverso relaxamento das leis sobre armas – uma promessa fundamental em sua campanha de 2018 – esteja alimentando o medo entre especialistas e ativistas de que tais medidas aumentarão os já chocantes níveis de violência”.
A lista de reivindicações semelhantes – que aparecem em veículos da National Public Radio e do New York Times ao The Economist – é longa demais para ser recitada.
No entanto, as reformas de Bolsonaro produziram um aumento de 600% na posse de armas. No entanto, apesar de todas as previsões terríveis, os homicídios no Brasil despencaram.
Em 2018, um ano antes de se tornar presidente, a taxa de homicídios era de 27,8 por cem mil pessoas – 5,5 vezes maior do que a taxa dos EUA. Mas caiu em cada ano consecutivo. Em 2021, o terceiro ano da presidência de Bolsonaro, havia caído para 18,5 por cem mil – uma queda de 34%.
Esta é uma informação que a mídia não consegue entender. Um novo artigo do Washington Post afirma que os criminologistas acreditam que a queda nos homicídios ocorreu apesar do aumento da posse de armas no Brasil, não por causa disso.
O Post cita um pesquisador de saúde pública que afirma que “cada aumento de 1% na posse de armas de fogo está associado a um aumento de 0,6% nas taxas gerais de homicídio”. Nesse caso, um aumento de mais de 600% na posse de armas deveria ter resultado em um aumento de mais de 360% nos homicídios, não em uma queda de 27%.
O jornal agora afirma que a criminalidade caiu por causa de “uma década de investimento em policiamento”. Mas esses investimentos já eram conhecidos em 2019 e 2020, quando todos previam desastres e mudanças no policiamento afetaram apenas alguns dos 26 estados do Brasil, e a taxa de homicídios caiu em todos menos um dos estados.
“A pesquisa mostra consistentemente que, quando a posse de armas privadas aumenta, os assassinatos seguem”, escreve o Post. Na verdade, a maioria das pesquisas mostra que permitir mais licenças de armas escondidas reduz o número de assassinatos.
Quando pesquisados sobre 33 propostas de controle de armas, os criminologistas acadêmicos foram fortemente a favor de “reduzir os custos de aquisição de armas impostos pelo governo”. Essa é a medida política que eles pensaram que faria mais para reduzir as taxas de homicídio. Foi também a segunda estratégia preferida entre os economistas acadêmicos. A abordagem preferida dos economistas foi “relaxar as restrições federais para permitir que as empresas determinem se as pessoas podem portar armas escondidas no local de trabalho”.
Mas o Post não parece ter conversado com criminologistas ou economistas. Certamente não levou em consideração as opiniões da maioria dos policiais. Quando a PoliceOne perguntou a seus 450.000 policiais americanos sobre os efeitos da propriedade privada de armas, 76% dos policiais responderam que cidadãos legalmente armados são muito ou extremamente importantes na redução do crime.
Toda vez que todas as armas ou todos os revólveres são banidos em todo o mundo, as taxas de homicídio aumentam.
A realidade é que a experiência brasileira de posse legal de armas é apenas o exemplo mais recente de “mais armas, menos crimes”. O crime violento caiu quando os criminosos ficaram com medo de cidadãos armados. Mas não prenda a respiração para que nenhum meio de comunicação ou grupo de controle de armas admita que estava errado.
John R. Lott Jr. é PhD em economia pela Universidade da Califórnia. Ele é presidente do Centro de Pesquisa de Prevenção ao Crime e autor de livros como: More Guns, Less Crime; The Bias Against Guns e Freedomnomics.