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Um poço de ressentimento

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(J.R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 26 de março de 2023)

 

Insulto após insulto, decisão após decisão, o presidente Lula tem conseguido se mostrar, em menos de 90 dias no governo, o chefe de Estado mais irresponsável que o Brasil já teve desde a volta dos civis ao governo deste país. Já se mostrou, também, inepto — não consegue, simplesmente, governar o Brasil com um mínimo de competência. Gastou todo o seu tempo até agora no ataque a inimigos imaginários e na produção de fumaça demagógica; não tem a mais remota ideia a respeito de como começar a resolver qualquer dos problemas que crescem todos os dias bem na sua frente, mesmo porque não entende a natureza mais elementar desses problemas. Lula, agora, também deixou de fazer nexo no que diz. A impressão é a de que temos na Presidência da República um homem que está em processo de perda acelerada do equilíbrio mental.

Seu último surto, e o pior de todos os que já teve, foi a declaração demente de que a operação policial que descobriu, num prazo recorde de 45 dias, um plano do PCC para assassinar o senador Sérgio Moro, o promotor Lincoln Gakiya e diversas outras autoridades, era uma “armação” do próprio Moro. “É visível que isso é armação do Moro”, disse ele. Lula fez o seguinte: afirmou que o trabalho de 120 policiais da Polícia Federal, mais as autoridades do Ministério Público de São Paulo e de órgãos de combate ao crime organizado, é uma invenção de Sergio Moro. O trabalho policial identificou imóveis alugados pelos criminosos nas vizinhanças da residência do senador em Curitiba. Gravou conversas entre os criminosos. Obteve vídeos feitos pelos bandidos para registrar a movimentação física de Moro e seus familiares. Descobriu um investimento de 5 milhões de reais no plano. Prendeu, por ordem judicial, uma dezena de pessoas. Lula diz que tudo isso é “armação” de Moro — não um sucesso brilhante da polícia que faz parte do seu próprio governo. Praticou calúnia em público: acusou a Polícia Federal e o senador de um crime que não cometeram. Depois de dizer o que disse, como sempre acontece com ele, quis se proteger — afirmou que “não queria acusar ninguém sem provas”. Por que diabo acusou, então? Não faz sentido.

O ataque a Moro, à PF e ao MP fica particularmente pior porque, momentos antes, Lula tinha cometido outra agressão alucinada contra Moro — disse que não iria sossegar enquanto não arruinasse a vida do ex-juiz, e que só tinha desejos de vingança contra ele. Revelou que pensou essas coisas na cadeia, mas e daí? Por que fez questão de falar sobre elas justo agora? Lula, visivelmente, não está interessado em governar o Brasil neste momento. Só pensa em cultivar seus próprios ressentimentos.

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