Da Redação
O general Gonçalves Dias, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Lula (PT), deu ordem para a direção da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) omitir do relatório entregue ao Congresso Nacional os alertas enviados a ele sobre a ameaça de ataques em 8 de janeiro. A informação é do jornal Folha de S.Paulo em reportagem publicada na edição desta quarta-feira (14).
A pedido da Comissão de Atividades de Controle de Inteligência (CCAI ), o GSI encaminhou ao Congresso um documento com informes de inteligência disparados pela ABIN entre os dias 2 e 8 de janeiro. A relação, enviada à comissão no dia 20 de janeiro, continha mensagens dirigidas a diferentes órgãos pelo WhatsApp. Não apresentava, porém, os informes que tinham sido enviados, segundo a agência, diretamente a Gonçalves Dias.
Segundo a Folha, o general mandou omitir esses informes de uma minuta submetida previamente a ele, sob o argumento de que essa troca de informações não ocorreu por canais oficiais. A agência era chefiada à época pelo oficial de inteligência Saulo Moura da Cunha. Ele deixou o posto em março e passou a ocupar um cargo no próprio GSI a partir de abril, durante a gestão de Gonçalves Dias.
Os alertas enviados ao então ministro só chegaram ao Congresso no mês passado, por meio de um novo relatório da ABIN — esse com os informes que, segundo a agência, foram disparados diretamente para Gonçalves Dias. No total, 11 alertas enviados ao general foram suprimidos do primeiro documento.
O primeiro pedido de informações ao GSI foi feito em 9 de janeiro pelo então presidente da CCAI, senador Esperidião Amin (PP-SC). Em resposta, a ABIN elaborou uma planilha com os informes distribuídos pela agência por WhatsApp no período que antecedeu as depredações na Esplanada.
De acordo com a Folha, ao receber essa minuta, Gonçalves Dias determinou que o relatório encaminhado ao Congresso contivesse apenas as informações distribuídas em grupos — tratados como canais oficiais da ABIN desde o governo Jair Bolsonaro (PL). A planilha completa ficou nos arquivos da agência de inteligência.
Gonçalves Dias pediu demissão do cargo em abril, após a divulgação de imagens pela CNN que colocam em xeque a atuação do órgão durante os ataques de 8 de janeiro. Vídeos do circuito interno da segurança durante a invasão da sede da Presidência da República mostram uma ação colaborativa de agentes com os manifestantes e a presença de Gonçalves Dias no local. Até então, as imagens estavam sob sigilo decretado pelo governo Lula.
O segundo documento foi entregue à CCAI de forma espontânea pela direção atual da ABIN depois que a PGR solicitou os informes. O envio do segundo compilado, porém, se deu quando Gonçalves Dias já tinha sido exonerado pelo presidente Lula e a ABIN estava sob o guarda-chuva da Casa Civil, e não do GSI.
O advogado André Callegari, que defende Gonçalves Dias, afirmou em nota que não tem “esses documentos” citados, que o tema está sob sigilo e que o general tem respondido a todas as perguntas feitas no âmbito das investigações.