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O que ninguém falou na Brazil Conference sobre Gilmar, um patrocinador e Lava Jato

Narrativas do ministro do STF em Harvard só estão sendo contestadas na internet

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(Felipe Moura Brasil, publicado no portal O Antagonista em 13 de abril de 2025)

 

Gilmar Mendes se disse “muito orgulhoso” do desmanche da Lava Jato, que comparou com o PCC e voltou a acusar de “organização criminosa”, durante sua participação na Brazil Conference 2025, evento em Harvard que agora tem patrocínio do BTG e palestra do dono do banco, André Esteves, blindado contra a operação pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, que ainda organiza anualmente em Lisboa o ‘Gilmarpalooza’, onde ambos já haviam palestrado juntos.

Indicado por FHC (PSDB) para o STF, Gilmar, na verdade, exaltou a Lava Jato em 2015 e votou a favor da prisão em segunda instância em 2016, enquanto a força-tarefa anticorrupção expunha o que ele chamou na época de “cleptocracia”, um “modelo de governança corrupta” do PT.

Depois que a Lava Jato, a partir de 2017, atingiu seu amigo tucano Aécio Neves, entre outras pessoas próximas de Gilmar (incluindo o marido da sobrinha de sua esposa), o ministro se voltou contra a operação, passou a ser chamado pelo petista Wadih Damous em 2018 de “aliado” do PT e mudou seu voto sobre prisão em segunda instância em 2019, desempatando o placar no plenário do Supremo a favor da reversão da jurisprudência, o que garantiu a soltura de Lula.

Quando Lula voltou ao poder em 2023, o mesmo Gilmar que atacou juízes e procuradores da Lava Jato em razão de ilações sobre o conteúdo jamais autenticado de mensagens roubadas por criminosos (as quais renderam um único inquérito no STJ, arquivado por falta de provas) fez campanha para que o atual presidente indicasse seu ex-sócio Paulo Gonet como procurador-geral da República.

As datas importam: em 14 de outubro de 2023, Gilmar mandou seu recado, ressaltando que Lula não estaria na presidência se não fosse ele: “Muitos dos personagens que hoje estão aqui, de todos os quadrantes políticos, só estão porque o Supremo enfrentou a Lava Jato. Do contrário, eles não estariam aqui. Inclusive o presidente da República.” Menos de 45 dias depois, em 27 de novembro de 2023, Lula indicou Gonet para a PGR.

Sim: um juiz do Supremo emplacou no cargo o procurador-geral que envia, ou deixa de enviar, denúncias à Corte que ele integra. Imagine o escândalo se o ex-juiz e atual senador Sergio Moro tivesse emplacado Deltan Dallagnol como procurador do Ministério Público antes da Lava Jato e um fosse ex-sócio do outro… Mas o atual PGR, que também palestrou no evento em Harvard, não comenta o teor de mensagens trocadas com o padrinho, nem das reuniões fechadas que têm feito com Lula, Gilmar e outros ministros do STF. Ou não é pelo zap que eles combinam os encontros?

De 2019 para cá, tudo se normalizou na República do Escambo e os efeitos disso já chegaram, inclusive, à faculdade mais famosa do mundo, onde alunos e visitantes que, até a edição de 2024 da Brazil Conference, viram parlamentares, jornalistas e ex-procurador tecendo críticas a condutas, votos e decisões de ministros do STF agora veem apenas o sistema reunido fora do Brasil para amplificar e disseminar suas narrativas, numa espécie de evento do grupo Esfera, ou melhor, de ‘Gilmarpalooza’, incrustado entre painéis com Ana Maria Braga e Carlinhos Brown. Contestações, como a de Sergio Moro, só estão sendo feitas nas redes sociais.

Os alvos da Lava Jato devem ter muito orgulho de Gilmar Mendes. Reconduzido ao cargo por ele, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, ponta firme nas relações comerciais entre a entidade e o instituto do ministro, também.

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