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O que os intelectuais não enxergam sobre o Brasil

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Sempre fui executivo e acadêmico; cursei o Doutorado em Administração. Sendo assim, posso afirmar que disponho de um certo conhecimento desses dois mundos (tenho muito mais temor dos acadêmicos…).

Em qualquer esfera em que se faça uma análise prudente e fidedigna, é importante considerar que o “mundo não é plano”, uma vez que existe uma série de fatores institucionais, econômicos, sociais, culturais – e religiosos -, que diferem de nação para nação. Confesso que me sinto incomodado com a leitura de artigos e de análises sobre países, mandatários e instituições, que têm sido elaboradas por renomados autores internacionais.

Um destes autores que tem opinado regularmente, e me surpreendido negativamente, é Daron Acemoglu. O economista é autor de excelentes livros, entre eles, Por que as Nações Fracassam O Corredor Estreito. Nitidamente, Acemoglu, que reputava como sendo um liberal, a meu juízo, tem colocado uma grande ênfase na capacidade do Estado de resolver os problemas dos indivíduos, de proteger a propriedade, os direitos individuais e assegurar a lei e a liberdade.

Provavelmente, Acemoglu está acostumado com a situação norte-americana, pondo em relevo a questão social e, de maneira enfática, externando sua preocupação com a automação e o eventual desemprego, e com isso acaba fazendo concessões a um Estado um tanto robustecido e mais centralizador.

Não creio na capacidade de burocratas estatais; são as ideias e as ações das pessoas e das empresas – portanto, os incentivos importam – que geram riqueza e resolvem os problemas dos cidadãos. O posicionamento do economista em relação ao Brasil é de que as instituições funcionam, porém, o “problema” parece ser o ataque do presidente da República às instituições.

Outro autor que aparenta analisar a “realidade” brasileira, recebendo informações da “grande mídia” verde-amarela, é o cientista político Francis Fukuyama. Fukuyama também parecia-me um liberal, que defendia a garantia dos direitos individuais, a igualdade perante a lei e a liberdade.

Esses autores falam em democracia e em Estado de Direito sob o ponto de vista normativo, isto é, como as instituições deveriam ser e se comportar idealmente, o que certamente é muito distinto do aspecto descritivo, ou seja, como elas efetivamente são. Nesse “pequeno detalhe” o diabo mora.

Ambos os autores repudiam o autoritarismo do presidente da República e a ameaça que Bolsonaro representa para as instituições democráticas. Não existe mundo perfeito; porém, pela ótica desses autores, as instituições brasileiras são as mesmas de Nárnia.

Notoriamente, o poder que deveria ser o guardião da Constituição, o STF, representa hoje, em razão de seu ativismo e de sua militância, inequivocamente, um grande risco à democracia. O STF tem invadido a competência de outros poderes, legislando, e, como se não bastasse, “criando leis”.

A grande maioria dos componentes da Corte, verbaliza abertamente contra o presidente da República, atuando politicamente de maneira explícita. Membros da Suprema Corte apontam a importância de um Judiciário independente – algo com que concordo -, porém, salta aos olhos a ferrenha defesa e votação enviesada à esquerda, e em desfavor do governo atual. Como é possível governar – e bem – com um Judiciário que decide contra a Constituição, por meio de um franco e perigoso ativismo?

Políticas identitárias, que criam tensão e prejudicam a coesão social, são amplamente abraçadas e defendidas pela maioria dos togados. O STF, por exemplo, criou o “crime de opinião” inexistente no regramento constitucional, dessa forma caminhando em direção à censura em terras tupiniquins.

Apesar dessa Corte Superior e da perseguição da mídia militante, factualmente, não houve nenhuma ruptura institucional por parte do presidente. Portanto, está mesmo o presidente atacando as instituições ou a ótica normativa tem sido usada para analisar e concluir segundo determinados interesses?

É emblemático que esses autores sejam veementes em apontar o suposto populismo de direita, muito embora sejam lenientes com ideias e projetos “progressistas”, mas que, no entanto, em ambos os casos, omitem os verdadeiros fatos e dados. Fukuyama afirma sua preocupação com a captura intelectual que tem ganho o apoio dos “neoliberais”, que defendem a desregulamentação, a defesa rigorosa dos direitos de propriedade e as privatizações. Entretanto, ele não demonstra o mesmo temor em relação à regulamentação estatal e à nacionalização.

Acemoglu e Fukuyama são exemplos de intelectuais que aparentam analisar “realidades” e contextos, tendo como base meramente o aspecto normativo. Apoiado na realidade, como ela se apresenta de fato, é perfeitamente natural que existam descontentamentos em relação ao trabalho desses cientistas, como é o meu caso. Talvez eles devessem vir mais ao Brasil…

 

Alex Pipkin doutor em Administração – Marketing pelo PPGA/UFRGS;  Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul e diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Foi Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS e Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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