(J.R. Guzzo, publicado no jornal Gazeta do Povo em 15 de agosto de 2022)
O presidente do Tribunal Eleitoral do Rio de Janeiro, em mais um momento ruim no surto de obsessão policial que conduz hoje em dia a conduta de tantos juízes brasileiros, ameaçou prender, agora nas próximas eleições, o eleitor que reclamar que o seu voto não foi registrado corretamente nas urnas eletrônicas. É uma piada gigante — mais uma, na corrida morro abaixo que a Justiça deste país vem fazendo, dia após dia, e sob o comando do Supremo Tribunal Federal, para tornar-se a instituição mais desmoralizada de todas as que estão por aí. Prender os eleitores do Rio de Janeiro? Justo do Rio de Janeiro? Pois então: na cidade brasileira onde o cidadão é mais oprimido pelo crime, e onde recebe proteção abaixo de zero por parte da Justiça, um juiz vem falar em prender gente? É insano, e eles nem percebem que é.
As autoridades judiciárias, mais o consórcio de grupos de “esquerda”, de empresários socialistas e das classes intelectuais que se julga o fiscal supremo da democracia brasileira, transformaram as urnas eletrônicas em objeto sagrado, como o Ostensório que carrega a hóstia nas procissões do Santíssimo — e maldito seja, nos dias de hoje, quem não se ajoelhar diante delas. Inclusive no Rio de Janeiro? Sim, inclusive no Rio de Janeiro, onde as pessoas decentes, todo o santo dia, são assassinadas, roubadas e estupradas pelos criminosos que governam as ruas com violência abjeta e impunidade garantida. Esses podem continuar fazendo o que bem entendem; o problema do homem do TRE é com o cidadão honesto que for acusado de cometer sacrilégio contra as urnas infalíveis, invulneráveis e perfeitas da nossa “justiça eleitoral”.
O governo local se orgulha de colocar na rua, no dia das eleições, “60.000” homens da polícia, e outras providências espetaculares. Não passa pela cabeça de nenhuma autoridade local, é claro, dedicar sequer uma fração dessa força toda para defender os direitos mínimos da população em termos de segurança. Ao contrário: o aparelho judicial e a polícia do Rio estão hoje, para a maioria dos efeitos práticos, a serviço do crime e dos criminosos. Por ordem do STF, a polícia não pode sobrevoar as favelas de helicóptero, para não perturbar as ações dos bandidos; não pode executar operações policiais básicas. Quem de fato governa os morros do Rio são as quadrilhas — o Estado traiu os seus cidadãos e entregou a elas o comando de tudo. É nessa hora que vem o presidente de um dos 27 TREs, um dos mais agressivos cabides de emprego jamais socados em cima da população deste país, falar grosso e fazer ameaças. Enquanto isso, o crime continua a sua festa.