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Se os liberais não defenderem a liberdade, ninguém vai fazer isso

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Um dos maiores erros do movimento liberal na comunicação é o estranho costume de defender o status quo, isto é, o estado atual das coisas, como se ele representasse um mundo livre.

Este texto busca trazer lições valiosas para lhe ensinar a vender melhor a liberdade.

Vendendo a liberdade: como não fazer 

Há algum tempo no Facebook me deparei com uma “denúncia” de um militante de extrema-esquerda: um ônibus estava circulando com duas catracas, uma em cima da outra, objetivando impedir a prática comum de pular a roleta para não precisar pagar ao utilizar o serviço de transporte.

Como sempre, a publicação do militante atacava o capitalismo, o “livre mercado” e a propriedade privada. Contudo, trata-se de três elementos que qualquer um introduzido ao ideário da liberdade é capaz de notar que faltam no sistema público de transportes.

Em um ambiente com liberalismo econômico, pequenos empreendedores podem acumular capital, investi-lo em carros, vans, ônibus, ou qualquer outra coisa, tendo a liberdade no mercado de transportes sem o risco de sua propriedade privada ser apreendida por fiscais da prefeitura.

De fato, ao ver uma situação como esta, qualquer liberal deveria se preocupar em corretamente comunicar as causas daquele arranjo e como fazê-lo encontrar seu fim. Infelizmente, é comum que defensores da liberdade estejam mais preocupados em garantir a liberdade existente no cenário atual do que em expandi-la. Eles preferem reagir a agir.

Um movimento que é mais reativo do que ativo está pavimentando sua completa destruição e irrelevância. Como escrevi em outra ocasião, pessoas querem soluções para os seus problemas, eventualmente preferirão tentar qualquer coisa a permanecerem imobilizadas.

Reagir contra tentativas de mudanças danosas pode até garantir mais algum tempo de existência àquele diminuto espaço livre a que nós nos agarramos com tanta vontade. Todavia, apenas a ação em prol de um mundo livre nos trará um mundo livre.

A esquerda, ou a direita, não podem ganhar tão fácil dos liberais e libertários o monopólio dos descontentes questionadores do status quo. Mais do que qualquer um, somos nós que ambicionamos reformar o Brasil de cima a baixo.

Em vez da defesa irrestrita de um arranjo que só existe graças ao estado – longe dos nossos ideais, feito apenas para marcar posição —, precisamos apontar como uma empresa colocar duas catracas, uma em cima da outra, dentro de um ônibus só é possível graças ao estado.

Defensores da liberdade, como disse Lord Acton, devem encarar a liberdade como o mais elevado fim político e defendê-la ansiando por aquilo que será, e não pelo que hoje é apresentado.

A liberdade requer coragem  

Um pequeno exercício de imaginação esclarecerá melhor esta posição. Por um segundo, imagine que o chefe do executivo resolve privatizar a Petrobras amanhã. O roteiro é o usual: o BNDES financiará grandes grupos nacionais que comprarão a estatal com dinheiro do estado.

Aplaudir este arranjo é torcer para que a liberdade seja totalmente desacreditada e encontre seu caminho rumo à lata de lixo da história. Liberais deveriam ser os primeiros a criticar um cenário tão claramente corporativista e gerador de privilégios. Deveriam ser os primeiros a exigir que o estado saísse por completo do setor de petróleo e que a Petrobrás fosse dividida entre seus verdadeiros donos: os pagadores de impostos.

Dado o estado atual das coisas, esta posição certamente não é pragmática. Requer coragem e causará dor de cabeça a quem defendê-la. Mas é exatamente disso que precisamos! A defesa da liberdade precisa ser viva. Precisamos de uma aventura intelectual capaz de incomodar os encastelados dentro do poder e fazê-los temer sua ruína.

Se existe algo que podemos aprender com nossos opositores, é que, nas palavras de Friedrich Hayek, “ser utopista foi um ato de coragem da parte deles [socialistas], que lhes conquistou o apoio dos intelectuais e, por consequência, uma influência sobre a opinião pública que torna possível, cotidianamente, o que até pouco tempo atrás parecia ser algo totalmente remoto.”

Imóveis, os que procuram apenas reagir, rapidamente irão notar como até mesmo a sua esfera de possível defesa da liberdade se tornou impraticável. No passado, liberais sabiam que derrubar instituições centenárias, quiçá milenares, como o absolutismo, a escravidão e o mercantilismo era impossível, e mesmo assim o fizeram, defenderam o seu fim até que sua queda simplesmente se tornou inevitável.

Para Milton Friedman, esta é nossa função fundamental. Nada de defender monopólios, cartéis e privatizações que criam novas estatais, mas desenvolver a alternativa liberal até que ela “de politicamente impossível se torne politicamente inevitável”.

Se os liberais não defenderem a liberdade, ninguém o fará.

 

Ivanildo Terceiro é diretor de comunicação do Students for Liberty Brasil

 

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